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Cristo, Nosso Tudo (1935)

por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 - Uma Vida Celestial

“Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo." (João 5:26).

“A vida estava nele" (João 1:4).

"Eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá" (João 6:57).

“Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste." (João 17:2).

"E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho." (1 João 5:11).

“Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 1:17-18).


No capítulo anterior, tratamos do primeiro recurso que temos em nosso Senhor Jesus Cristo, e vimos que é um céu aberto. Agora chegamos ao segundo recurso: a posse de uma Vida celestial.

Na primeira porção da Escritura que lemos, afirma-se que o Pai concedeu ao Filho ter Vida em Si mesmo: “Ele tinha vida em si mesmo”. A segunda passagem, em João 1:4, nos mostra a manifestação dessa Vida. "A Vida estava nele e a Vida era a luz dos homens". A terceira passagem nos apresenta a relação dessa vida com o Pai. O Senhor Jesus disse: "Eu vivo por causa do Pai". Isso significa que Sua vida se baseava em um relacionamento especial que Ele tinha com o Pai. A última parte de João 17:2, nos mostra que Ele tem autoridade para dar Vida. “Como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”.

Como essa Vida é concedida e manifestada em outros é mostrada em 1 João 5:11-12, onde lemos: "o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho.Aquele que tem o Filho tem a vida.” Finalmente, Apocalipse 1 nos leva ao lugar onde essa Vida é desafiada e testada quanto à sua realidade. O Senhor Jesus disse: "Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno”. Na Cruz do Senhor Jesus, essa Vida foi desafiada. O inferno havia se erguido para extingui-la. Houve um terrível conflito com os poderes da morte. Mas a Vida no Senhor venceu a morte, porque era uma Vida indestrutível. A morte não tinha poder sobre essa Vida. Embora Ele tenha descido ao reino da morte, Ele venceu a morte, pois “não era possível fosse ele retido por ela." Ele tem as chaves da morte e do inferno. Chaves são o símbolo da autoridade. Agora, o Senhor Jesus as possui. Essa autoridade se baseia na Vida eterna que, por meio dEle, venceu a morte.

Agora, veremos o significado de cada um desses versículos e os consideraremos um pouco mais de perto.

Notemos, em primeiro lugar, que a Vida em nosso Senhor Jesus Cristo foi um fator distintivo. Tornou Cristo único entre os homens. Ele era diferente de todo o restante da criação de Deus. Era uma vida peculiar a Cristo. Nesse sentido, era possível dizer dEle o que não se poderia dizer de nenhum outro ser da criação: que “A Vida estava nele”. O Senhor sabia que havia uma grande diferença entre Ele e os demais homens. Os homens estavam conscientes de que havia algo em Jesus que era completamente diferente deles e que não conseguiam explicar. Essa diferença não tinha nada a ver com educação ou posição social, pois não pertencia a esfera natural. Era espiritual e só podia ser atribuída à Vida que estava nEle. Essa Vida divina energizou Sua mente de modo que ela não era apenas superior aos outros, mas diferente em sua espécie, embora Ele sempre estivesse à altura dos outros intelectualmente. O segredo era sua visão espiritual. As maiores autoridades religiosas em Jerusalém tentaram capturá-Lo para conduzi-Lo a uma armadilha. Mas Ele sempre lhes escapava, porque Sua mente era energizada pela Vida Divina que Lhe era ministrada pelo Espírito Divino. Quantas vezes Seus adversários O enfrentaram, perplexos! Quantas vezes se maravilharam de Sua sabedoria, dizendo: "Como sabe este letras, sem ter estudado?" [Jo 7:15].

O Senhor era superior tanto em mente quanto em coração. Ele era energizado por aquela Vida divina em Sua simpatia e compaixão, que eram superiores as de qualquer homem. Seu amor era um amor diferente. Ele sofreu muito nas mãos dos homens, mas nunca perdeu Sua compaixão. Mesmo sabendo que Jerusalém iria crucificá-Lo, Ele chorou sobre a cidade, dizendo: "Jerusalém, Jerusalém... ". Seu coração foi movido pela compaixão e longanimidade para com os Seus. Eles mesmos não testificaram dEle: "tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”? Eles mereciam tal amor? Um deles O negou. No entanto, Ele nunca perdeu Sua compaixão por nenhum deles nem por Pedro. Seu coração foi preservado no alto nível do amor de Seu Pai.

Quanto à Sua vontade, Suas ações foram energizadas por esta Vida do alto, e quanto à Sua confiança, Ele se manteve firme em todas as provações. Ele nunca duvidou da fidelidade de Seu Pai.

Levaria horas para acompanhar os desdobramentos na vida e natureza únicas de nosso Senhor Jesus. Durante quarenta dias após Sua ressurreição, Ele procurou firmar Seus discípulos, mostrando-Se vivo por meio de muitas provas incontestáveis, comendo e bebendo com eles. Mas o quinquagésimo dia foi o maior dia, indo além dos fatos, quando Ele se tornou uma realidade interior para eles. Quando chegou o quinquagésimo dia, “ao cumprir-se o dia de Pentecostes", o Senhor ressurreto veio para habitar no coração de Seus discípulos e ser sua Vida, seu poder; a nova criação de Deus. Com base em Cristo neles, eles foram constituídos Suas testemunhas.

Ministério no Espírito é um testemunho de Vida. Se o nosso ministério não é um testemunho, não é um ministério verdadeiro. O cerne do ministério é Cristo em nós, uma expressão da Sua ressurreição. Temos de revelar Cristo como a Vida, pois nEle estava a Vida. Quando ministramos a Cristo dessa forma, Ele se manifestará através de nós como luz e liberdade. O Senhor disse: "Conhecereis a verdade". Isso é luz. “E a verdade vos libertará" [Jo 8:32]. Isso é liberdade. Ministério não é uma questão de palavras, mas, por meio delas, uma transmissão de Cristo. Não é informação sobre Cristo, nem discursos bonitos. Ministério é uma demonstração do Senhor Jesus, uma manifestação de Cristo através de nós, como o Senhor ressurreto.

Esse é o ministério da igreja. A assembleia do Senhor é chamada para ministrar Vida e testemunhar de forma viva dessa Vida neles. Quando nos reunimos em Nome do Senhor, isso deve significar Vida para nós. Onde a assembleia do povo do Senhor é uma reunião em Sua Vida, sempre significa uma nova energia de Sua Vida neles, uma renovação de forças. Nossa mente é vivificada, as nuvens são levantadas, até mesmo o corpo desfruta do bem da plenitude dessa Vida. Talvez alguns do povo do Senhor se reúnam no final de um dia, fisicamente cansados, esgotados ou desanimados. Se a reunião deles for no Espírito da Vida que está em Cristo Jesus, até mesmo seus corpos serão vivificados. Eles serão renovados física, mental e espiritualmente, para que possam sair da reunião revigorados e cheios de alegria, porque se encontraram em Vida. Isso é completamente diferente de simplesmente sentar em uma reunião e ouvir uma mensagem. Muitas vezes, o ministério da Palavra é deixado para o pregador, e as pessoas ficam esperando receber algo dele, na esperança de que seja suficientemente interessante para mantê-las acordadas. Ninguém está contribuindo com nada. Não há um tomar da Vida de Cristo em unidade. É a mesma coisa de sempre, começando com a esperança de chegar a algum lugar e terminando em decepção.

Ora, o Senhor sabia que o inimigo procuraria esconder o fato de Sua ressurreição. Ele sabia que o ataque supremo se desenrolaria em torno da certeza de Sua vida entre os Seus. Por isso, Ele permaneceu tanto tempo com eles para estabelecer neles o testemunho de Sua ressurreição, a fim de torná-los Suas testemunhas. Mas os meios e métodos do inimigo são inumeráveis. Uma de suas artimanhas tem dois lados. Ou ele consegue cercar vocês com uma atmosfera de morte espiritual, onde tudo parece estar completamente morto e a fé é tentada a se tornar vazia e irreal, ou ele introduz uma vida falsa. Ele usa as Escrituras e busca agitar as emoções em uma atmosfera altamente tensa, onde uma grande força psíquica entra em ação para produzir milagres semelhantes aos do Espírito; no entanto, eles são apenas mentiras e sinais de engano.

A única maneira de saber se algo é de Deus ou não é nos perguntarmos: isto nos ministra Cristo? O que importa não é despertar as emoções, mas garantir que haja um crescimento de Cristo. Não se trata de nos apegarmos a uma experiência, mas de ter incutido em nós um conhecimento interior de Cristo. O teste supremo é se Cristo nos é ministrado ou não. Como a morte espiritual está próxima de nós! Há um conflito constante ao nosso redor contra a Vida ressurreta do Senhor. É a morte espiritual contra a vida espiritual. A morte é a mais persistente, o último de todos os nossos inimigos: "O último inimigo a ser destruído é a morte." [1Co 15:26].

Temos que manter a nossa fé firmada no fato de que Jesus Cristo ressuscitou, que nEle temos Vida, uma nova Vida, a própria Vida de Deus, a Vida eterna. 

Depois, há a cooperação da fé. Temos que abrir espaço para essa Vida em nós. Não há nada mais fatal do que uma atitude passiva, um estado de introspecção. A vida é ativa. Onde quer que toquemos na fé, haverá e deve haver amor ativo. A fé é sempre ativa, pois o amor não pode ser meramente passivo. Pode não ser sempre uma atividade exterior. Às vezes, essa atividade pode ser apenas uma atitude de espírito, um estado de espera, que consiste em se apegar tenazmente, crendo que o triunfo de Deus é certo, que Sua fidelidade não pode falhar.

Nossa vida não é algo meramente abstrato. É a Vida que está em Cristo, uma Vida em comunhão com Ele. E porque estamos em contato com a pessoa viva de Cristo, os mesmos recursos do mundo invisível que Ele usava estão disponíveis para nós: “A Vida estava nele”. Portanto, estamos cheios de gratidão e alegria indizível porque "Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho." [1Jo 5:11].

Que o próprio Senhor nos ensine o significado e o valor de Sua Vida de ressurreição como a fonte secreta de recursos de nossa vida que nunca seca.

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