por T. Austin-Sparks
“Farás também um véu... e o véu vos fará separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos" (Êxodo 26:31-36).
”Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo... " (Mateus 27:46-51).
O objeto da nossa meditação é: Jesus Cristo no céu como nossa Suficiência. Já vimos que os recursos usados pelo nosso Senhor Jesus quando Ele esteve aqui na Terra vieram de Seu Pai. Ele viveu voluntariamente em um estado de absoluta dependência dEle. Assim Ele desejou que fosse. Ele se recusou a ter qualquer coisa em Si mesmo. Tudo o que Ele precisava, extraía do céu; recebia do alto.
Quando estamos em uma união em ressurreição com Cristo, o Espírito Santo nos traz à uma unidade com Aquele que está no céu por nós. Isso significa que todos os recursos com os quais o Senhor Jesus viveu estão à nossa disposição. Esses recursos eram recursos secretos, isto é, eram desconhecidos do mundo. As pessoas ao Seu redor estavam completamente às escuras quanto à fonte de Seu poder. Havia um relacionamento secreto entre Ele e Seu Pai que os impressionava. Eles viam que havia algo no pano de fundo de Sua vida, um poder e conhecimento misteriosos, que não eram comuns ao homem. Ele tinha uma série de recursos à Sua disposição que ninguém possuía e tinha um conhecimento que estava muito além da compreensão do homem. E porque Ele vivia uma vida secreta, uma vida em Seu Pai, Seus recursos eram misteriosos e maravilhosos para os homens.
Se vivermos em união celestial com Jesus Cristo pelo Espírito Santo, os mesmos recursos estarão à nossa disposição. Lembremo-nos da Palavra que está na base da nossa meditação: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo" [Ef 1:3]. Isso significa que todos os recursos que estão em Cristo estão disponíveis para nós. Mas precisamos aprender a viver em comunhão tão íntima com Ele quanto Ele viveu com Seu Pai nos dias de Sua carne.
Agora, vejamos alguns desses recursos secretos e vamos abrir Hebreus 9:3-4: “Por trás do depois do segundo véu, se encontravava o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos". Temos aqui o tabernáculo como ele era constituído na terra, com o Santo Lugar e o Santo dos Santos. O Santo Lugar representava a terra. Ali temos o candelabro, o altar do incenso e a mesa dos pães da proposição, apontando – em tipologia – para o Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo atravessou o véu para o lugar das realidades futuras, onde tudo é Cristo, Cristo Tudo em todos. O céu está aberto desde que Cristo rasgou o véu. Para o homem natural, o céu está fechado. Isso abrange não apenas o céu para o qual poderemos ir um dia, mas representa também uma esfera atual da atividade de Deus, que poderemos compartilhar em união com Ele.
Nós também temos um céu aberto. Paulo diz: “Nossa pátria está nos céus"! [Fp 3:20] Se quisermos que nossa caminhada nesta terra seja celestial, precisamos ter um céu aberto, pois dependemos totalmente do céu para as bênçãos espirituais. A porta do céu está fechada para o homem natural. Mesmo um homem como Nicodemos não pode vê-la, e muito menos entrar nela.
Repitamos que o “Santo Lugar” do tabernáculo representa a Terra, e o “Santo dos Santos”, o céu. Em um lugar, temos os símbolos das coisas celestiais. No outro, estava o próprio Deus. Entre os dois, estava o véu. A morte encontraria qualquer um que atravessasse aquele véu e entrasse no Santo dos Santo, exceto por ordem especial de Deus.
A carta aos Hebreus nos diz ainda que aquele véu era um tipo da carne de Cristo. Há dois lados na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo: um lado terreno (em direção à terra) e um lado celestial (em direção a Deus). Entre o céu e a terra estava o véu, e a carne de Cristo era esse véu. Quando Jesus Cristo morreu na cruz, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo. Agora, os tipos deram lugar à realidade. O que era apenas sugestivo, apontando para Deus, desapareceu, e o homem foi autorizado a aproximar-se de Deus. A carne de nosso Senhor Jesus Cristo fala da limitação humana que formava uma barreira entre as realidades de Deus e do homem. Se olharmos para o Santo Lugar do tabernáculo, temos apenas características e ilustrações de coisas celestiais devido à limitação do homem.
Todo o Antigo Testamento nos dá essas lições objetivas, porque o homem, por natureza, não pode penetrar nas realidades das coisas divinas. Deus só podia falar ao homem sobre as coisas celestiais por meio de representações terrenas. Ele tinha que ensinar o homem como se ensina uma criança, dando-lhe essas imagens e parábolas das coisas divinas. Esse é o significado do “Santo Lugar”. Ninguém tinha permissão para entrar através do véu, que separava o Santo Lugar do Santo dos Santos, e que eram símbolos da terra e do céu.
Israel deveria ilustrar, com sua vida, um padrão das coisas de Deus. O que aconteceu com Israel é uma parábola para nós. Portanto, a história de Israel é tão significativa para nós que, à luz do Novo Testamento, agora somos capazes de ver nesses tipos do Antigo Testamento realidades divinas.
Uma vez por ano, no dia da expiação, o véu era levantado. Após muitos preparativos, o sumo sacerdote tinha permissão para entrar no “Santo dos Santos”. Mas isso acontecia apenas uma vez por ano e depois era fechado novamente. O dia da expiação, porém, revelava algo mais profundo nas intenções de Deus. Aquele dia apontava para o fato de que, segundo a vontade de Deus, o véu não permaneceria ali para sempre, mas haveria uma expiação por meio da qual o céu seria mantido aberto para sempre.
Quando Cristo morreu na cruz, o véu se rasgou. O que Deus havia planejado desde antes dos tempos eternos foi realizado nEle. Agora o caminho para Deus está aberto para sempre! Em Cristo, o véu rasgado abriu o caminho. Ele veio em carne, como o Filho de Deus, para fazer aquela obra que ninguém podia fazer. Em Cristo ressuscitado, não há mais véu. Como Filho do Homem, Ele aceitou nossa limitação humana. Como Filho do Homem, Ele era o HOMEM representativo. Mas, como Filho de Deus, Ele estava ligado ao céu. Em Sua pessoa, Ele era o véu do tabernáculo. Ele estava entre o céu e a terra. Ele estava entre a limitação do homem e a plenitude de Deus, entre os tipos e as realidades. Quando viveu entre os homens, Ele falou em parábolas das coisas celestiais, por causa das limitações do homem que era incapaz de apreendê-las. Então, Ele trouxe as coisas celestiais em formas terrenas. Ele disse: "Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?" [Jo 3:12]. O que Ele queria dizer era: "Se eu coloquei as coisas celestiais na forma de parábolas e tipos terrenos, e vocês não entenderam, como entenderão se eu falar com vocês em uma língua celestial?"
Agora, todas essas limitações se foram. Cristo é, em verdade, "o caminho" . Ele entrou, através do véu da Sua carne, no santuário mais íntimo, no Santo dos Santos, e abriu o caminho. É Cristo crucificado que é o caminho para nós, para a presença imediata de Deus.
E quando Ele diz: "Eu sou a verdade” [Jo 14:6]. Isso significa: tudo o que você vê são apenas tipos e símbolos servindo como imagens. Não são verdadeiramente as coisas celestiais. ELE é a realidade de todas essas coisas. NELE temos a realidade. Os sacerdotes estavam ocupados no tabernáculo, ano após ano, mas suas obras eram obras "mortas" que jamais poderiam conduzir a uma união viva com Deus. Agora, Cristo disse: "Eu sou a vida". Somente em Cristo há vida. O sangue de bodes e touros e a vida naquele sangue eram apenas um lembrete, um tipo. Ninguém, exceto Cristo, pode dar vida. ELE é a realidade viva.
Agora vemos o céu e a terra unidos em Cristo ressuscitado e ascendido. Ele é o mediador. Ele é a escada que Jacó viu em seu sonho e pela qual os anjos de Deus subiam e desciam. O Senhor se referiu a isso quando falou a Natanael, dizendo: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem" [Jo 1:51]. O que era apenas um tipo em Betel tornou-se uma realidade viva em Cristo. Ele está unindo o céu e a terra. Nele — nos dois lados de Sua natureza — Deus e o homem são reunidos, o céu e a terra são unidos. Ele é o caminho, o único meio de comunicação entre o céu e a terra. União com Cristo significa viver debaixo de um céu aberto, na presença de Deus e em toda a realidade da nova vida.
O Espírito Santo nos é dado por esse motivo. Ele veio sobre o Senhor Jesus após o Seu batismo no Jordão. Os céus se abriram e o Espírito Santo desceu sobre Ele. Agora, Cristo ressuscitado significa um céu aberto. O Espírito da Unção vem sobre nós porque o Crucificado ressuscitou. Ele vem a nós de um céu aberto que o Filho de Deus abriu para nós.
Mas qual era o valor da unção? Ela nos leva a uma união celestial com Deus. O Senhor Jesus disse: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade." [Jo 16:13]. E João confirma isso dizendo: "A unção que dele recebestes... vos ensina a respeito de todas as coisas." [1Jo 2:27]. Isso é representado pelos anjos subindo e descendo. O Espírito Santo está se comunicando conosco, mas Cristo é a escada, que vai da terra ao céu. Onde está essa escada? Não está no mundo. A escada está colocada em nossos corações. É Cristo em nossos corações. Cristo é o caminho aberto do céu em nossos corações, nos conduzindo à própria presença de Deus. O Espírito Santo se move em relação a Cristo para nos levar à comunhão com Cristo, assim como Cristo está em comunhão com Seu Pai.
A suficiência plena de Cristo nos é assegurada com base nisso. Estamos nos lugares celestiais porque Cristo está em nós. Se estivermos unidos à Sua pessoa, as limitações desaparecem. Há uma comunhão direta e imediata com Deus, e o Espírito Santo pode nos revelar coisas celestiais.
Assim, compreendemos o que significa receber tudo diretamente de Deus em Cristo. Cristo em nós significa um conhecimento interior de Deus, um relacionamento de coração com Ele. É uma vida e um poder interior vindos de Deus. Mas esse é um mistério que o mundo não conhece e não pode conhecer. Ele não consegue compreender que nosso Senhor Jesus estivesse disposto a aceitar exatamente a mesma base de vida, com suas limitações, na qual vivemos, embora sem pecado. Contudo, em comunhão com Seu Pai, Ele continuamente rompeu essas limitações e as superou, extraindo toda a Sua provisão, toda a plenitude somente de Seu Pai. Sua suficiência estava em Seu Pai.
Portanto, somos chamados a viver, pelo Espírito, uma vida triunfante sobre todas as nossas fraquezas, uma vida onde Cristo é tudo, e onde a Sua vitória é a nossa vitória. A obra da Cruz está consumada. O véu está rasgado. O caminho está aberto.
Assim, Cristo ressuscitado no céu significa para nós um céu aberto onde tudo nos é possível em Cristo, para que O glorifiquemos. Todas as coisas nos são dadas nEle. E é a unção que nos ensina todas as coisas.
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