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Cristo, Nosso Tudo (1935)

por T. Austin-Sparks

Capítulo 3 - A Unção

”E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba" (Lucas 3:21-22).
" ...recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo…" (Atos 1:6-8)
"Todos ficaram cheios do Espírito Santo" (Atos 2:4)
"E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento... A unção que dEle recebestes permanece em vós" (1 João 2:20,27)


A coisa mais importante na vida do crente é aprender sobre Cristo. "Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” [Cl 2:9]. Essa plenitude é para nós, pois: "Nele, estais aperfeiçoados” [vs 2:11]. E porque Cristo, como nossa plenitude, está na glória, Paulo escreve aos Efésios: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” [Ef 1:3]. Isso significa que somos abençoados com todas as bênçãos espirituais em nosso Senhor Jesus Cristo nas regiões celestiais e implica que nosso relacionamento com o Senhor Jesus deve ser um relacionamento celestial. Somente quando entramos em união celestial com Cristo podemos participar dessas bênçãos celestiais.

Já vimos que é preciso haver um deserto em nossas vidas antes de podermos experimentar a suficiência de Cristo para nós. A vida de Israel no deserto significou uma separação completa da velha natureza e uma absoluta dependência de recursos exteriores aos da terra. O deserto em si não lhes proporcionava nada, e todas as suas capacidades naturais eram inúteis naquele lugar. Mas essas condições foram dadas apenas para tornar o deserto num lugar de revelação, onde eles tinham que aprender a Cristo, de maneira especial, como sua suficiência. Cristo é o Pão vivo que desceu do céu. Ele é a Água da Vida. A “pedra espiritual que os seguia” era Cristo [1Co 1:4].

Portanto, enfatizemos novamente que, para conhecer Jesus Cristo em plenitude, temos que chegar ao ponto em que o mundo e todos os seus recursos naturais não podem nos ajudar e precisamq ser completamente descartados.

Salientamos que o próprio Jesus Cristo aceitou essa posição, que Ele voluntariamente escolheu viver com base na fé. Ele escolheu depender inteiramente de Seu Pai e não podia fazer absolutamente nada sem Ele. O Senhor não tinha nada, mas recebia tudo do Pai. Esse é o lado mais negativo da nossa meditação. Agora, vamos nos voltar para o lado positivo.

Qual é a base de uma vida vivida em união celestial com Cristo, onde todos os recursos devem ser de natureza celestial? A resposta é: o Espírito Santo.

Quando Israel foi separado do Egito e levado para o deserto, Deus lhes deu a coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite. Essa nuvem é um tipo do Espírito Santo. Os quarenta anos no deserto tipificam que a vida de Israel passou a ser inteiramente governada pelo Espírito Santo. Quando nos aproximamos do Senhor Jesus, vemos essaa realidade e como era verdadeiro no Seu caso. Quando Ele entrou na vida pública, Deus O separou para Seu ministério especial. Ele veio debaixo a unção do Espírito Santo (Lucas 3:22). A partir daquele momento, toda a Sua vida foi governada pelo Espírito Santo (Hebreus 9:14).

Se quisermos viver uma vida celestial no deserto, o Espírito Santo é essencial. Ele é concedido exatamente com esse propósito. Por meio do Espírito Santo, os mesmos recursos com os quais Cristo, nos dias de Sua carne, viveu, estão à nossa disposição. É muito importante reconhecer o fato de que nosso Senhor Jesus Cristo aceitou voluntariamente nossa posição e foi moldado como homem, tomando o lugar de alguém que dependeu de Deus para tudo. Se fizermos isso, nos alegraremos em viver uma vida governada pelo Espírito Santo, uma vida por meio da qual nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado, assim como Ele, vivendo no Pai, glorificou o Pai. Este, então, é o nosso relacionamento com Cristo. A base de uma vida celestial é o Espírito Santo. O Senhor Jesus viveu Sua vida no Espírito Santo. Por meio desse Espírito, Ele estava realizando Sua obra e se movia continuamente, em todos os Seus caminhos, governado pelo Espírito Santo. Ele se recusou a se mover ou agir debaixo da influência do homem, ou a ser pressionado pelas circunstâncias. Ele só fazia o que o Espírito Santo testemunhava Nele. O segredo de Sua vida triunfante foi o governo do Espírito Santo.

Ora, o que é verdade a respeito do Senhor Jesus tem de ser verdade para nós. É o mesmo Espírito que nos unge. Vimos que este mundo é um deserto. Somos chamados a abrir mão de nossos recursos naturais e a viver uma vida inteiramente derivada de Deus, em comunicação direta com Ele. Nas coisas de Deus, não podemos usar recursos naturais. Nem o mundo nem nós mesmos poderemos produzir nada para Deus. Mas vamos enfatizar o lado positivo: o Espírito da Unção torna tudo possível. O Espírito Santo, a Unção que recebemos, nos leva à unidade com Cristo. Assim como Cristo foi um com o Pai pelo Espírito, assim também somos feitos um com Cristo pelo mesmo Espírito. Esta é uma união maravilhosa! Significa que o próprio Senhor está realizando a obra em nós para realizá-la por meio de nós.

O que queremos dizer é que o próprio Deus fará a Sua obra. Ela não pode ser feita por meio de nossas tentativas. Pedir a Ele que nos ajude a fazer a Sua obra é um grande erro. Se é a obra do Senhor, então é ELE quem a está fazendo. Ele nunca entrega a Sua própria obra em nossas mãos. O Senhor não entrega a Sua obra a você ou a mim. Somos apenas Seus empregados, como o operário que usa suas ferramentas. Uma ferramenta nunca pensa no que deve fazer. Ela simplesmente se submete às mãos de seu mestre. Ele tem o plano, a habilidade e a força, e a ferramenta está apenas expressando o que está na mente de quem a opera. A responsabilidade recai sobre ELE. A ferramenta só tem permissão para fazer o que o mestre quer fazer por meio de seu instrumento. Imagine um instrumento levantando-se de manhã determinado a fazer isso ou aquilo, esperando que o mestre o ajude. Essa não é a atitude correta. Pensemos na ferramenta que assume essa atitude e diz: "Agora, Mestre, o Senhor sabe o que fará. O Senhor tem o plano. O Senhor sabe como trabalhará e a que horas o fará. Estou aqui à sua disposição. Estou disposto a servi-lo da maneira que desejar, totalmente consagrado a você e ao seu propósito. Olho para o Senhor em relação à obra que nos aguarda. O Senhor deve ser a sabedoria, a força e o poder da perseverança por trás de mim. Se eu me tornar cego, o Senhor pode me afiar novamente. Tudo depende de você, mas eu e você somo um.”

Esta é uma ilustração muito simples da verdade. Esse era exatamente o relacionamento do Senhor Jesus com Seu Pai. Ele disse: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” [Jo 6:17] Ele só trabalhou porque Seu Pai trabalhou. Ele também disse: "As obras que o Pai me confiou... essas que eu faço." [Jo 5:36]. O elo entre Ele e o Pai era o Espírito Santo. Ele trouxe essa maravilhosa unidade. Agora estamos debaixo da mesma unção. Essa unção é a garantia do suprimento de todas as necessidades para as quais somos chamados, no momento certo.

Quando estamos debaixo da unção, que nos leva à unidade com nosso Senhor Jesus Cristo nos céus, não há necessidade de entrarmos em um estado de ansiedade em relação às "nossas obras". O Espírito Santo virá e nos mostrará onde devemos agir como se estivéssemos debaixo da comissão do Senhor, e nos mostrará onde devemos recuar e esperar — apesar da aparente necessidade e pressão que nos sobrevém — porque o tempo do Senhor ainda não chegou para suprir essa necessidade. 

"A unção vos ensina a respeito de todas as coisas" [1Jo 27]. Isso não tem acontecido muitas vezes em nossas vidas? Por exemplo, surge uma situação difícil, um problema precisa ser resolvido e somos solicitados a suprir essa necessidade. Então, ficamos ansiosos, mas todo o nosso pensamento e planejamento não nos levam a lugar nenhum. Não conseguimos ver o que devemos fazer; não temos luz. Mas quando entregamos tudo ao Senhor, quando depositamos nossa confiança nEle, confiando em Cristo como nossa sabedoria e força, a luz vem, e somos capazes de dar o conselho necessário e tocar os pontos vitais de uma forma que nós, por nós mesmos, jamais seríamos capazes de fazer. Isso nos vem simplesmente por revelação. A experiência é verdadeira: "Naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer” [Mt 10:19]. O Espírito Santo nos é dado para que possamos, por meio dEle, permanecer continuamente em comunhão ininterrupta e direta com nosso Senhor no céu. Imediatamente, começamos a fazer as coisas de acordo com a nossa mente e passamos a contar com nossos recursos, ou começamos a olhar para as circunstâncias e assumimos uma responsabilidade que está além de nós e que não podemos cumprir. O resultado é que nos tornamos ansiosos, preocupados e impacientes. Começamos a pedir a outras pessoas que nos digam o que fazer. Buscamos ajuda externa e, assim, entramos cada vez mais na esfera do mundo natural que, sabemos, não pode nos ajudar nas coisas celestiais. Mas, se permanecermos debaixo da unção, temos a certeza de que tudo o que temos a fazer é apenas parte de uma obra concluída.

Quantas vezes foram feitas tentativas contra a vida do Senhor Jesus para destruí-la! Sua vida estava cercada de perigos. Ele mal havia se apresentado ao ministério público, e vemos Seus assassinos em ação. Somos informados de que tal tentativa foi feita quando Ele entrou na sinagoga de Nazaré. O povo ficou ofendido com Suas palavras e O levou ao topo da colina de sua cidade para jogá-Lo de lá. Mas Ele passou direto pelo meio deles, escapando de suas mãos, e a tentativa deles falhou. Ele não pôde ser destruído nem um dia antes do Seu tempo por causa da unção. Deus havia ordenado Sua vida para a "hora exata". "Ninguém a [minha vida] tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou" [Jo 10:18]. O que é ungido e permanece debaixo da unção completará a obra. Nós também podemos ter essa certeza de completarmos a obra para a qual Deus nos chamou em vida e para a qual Ele nos designou em Cristo. "Somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" [Ef 2:10]. Que grande conforto saber que é a unção que assume toda a responsabilidade pela conclusão da nossa vida! Portanto, só precisamos permanecer debaixo da unção.

O livro de Atos é uma demonstração maravilhosa disso. Antes de deixar Seus discípulos, o Senhor lhes deu esta comissão: "Ide por todo o mundo... “ [Mc 16:15]. Mas acrescentou: "Permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” [Lc 24:49]. Quando o Espírito da Unção desceu sobre eles no dia de Pentecostes, não tiveram vontade de realizar uma reunião de comitê e dizer: "Agora precisamos organizar nosso trabalho, organizar a arrecadação de dinheiro e fazer planos para administrar bem tudo isso. Será necessário pensar em todas as emergências que possam surgir." Não, os apóstolos foram libertos de tudo isso. A unção que haviam recebido se encarregou de tudo. Eles não precisaram pensar muito. Foram cumprir sua comissão com grande alegria e deixaram que o Espírito Santo cuidasse de todas as emergências. Ele assumiu total responsabilidade por eles. Tudo o que precisavam fazer era simplesmente se render em completa obediência a Ele.

Quando a igreja surgiu, eles não precisaram buscar novos membros para a igreja. Eles não se reuniram para organizar isso ou aquilo, a fim de construir a igreja. O Espírito Santo assumiu o comando total. Lemos: “Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos" [At 2:47]. Mas talvez a outra declaração fosse ainda mais importante; o Espírito Santo não permitiu que qualquer um se juntasse a eles. Lemos: "Mas dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles" [At 5:!3]. Às vezes, é mais fácil trazer pessoas para a assembleia — exteriormente — do que retirá-las. Mas também por isso o Espírito Santo assumiu total responsabilidade. Esse é um fator importante. Estamos em uma posição grandiosa quando, o Espírito Santo assume a responsabilidade por todos os assuntos relativos à igreja e ao nosso chamado.

Mas não nos esqueçamos de que tal posição provoca o inimigo. Imediatamente após a unção, o Senhor encontrou o inimigo no deserto. O adversário não se incomoda muito com os lugares onde a unção não está operando. Mas se nós estivermos debaixo da unção, se o Espírito Santo estiver fazendo de Cristo na glória o Cristo que é "a esperança da glória" em nós, nos tornaremos objeto do ódio do inimigo. Se alguém puder dizer que aqueles crentes que estão debaixo da unção, certamente serão odiados pelo diabo. Ele fará tudo o que estiver ao seu alcance para destruir tais instrumentos de Deus. Mas a unção também assegura a vitória. O Espírito Santo nos dá a vitória.

Mas não se esqueça de que nossa força natural e o poder do Espírito Santo jamais podem andar juntos. É absolutamente essencial que o homem natural seja descartado. Somente quando reconhecermos nossa própria fraqueza seremos fortes. Pense no apóstolo Paulo quando disse: "Quando sou fraco, então, é que sou forte" [2Co 10:12]. Portanto, nossa sabedoria natural e a sabedoria de Deus não podem andar juntas. Por isso o deserto é necessário, e temos que dizer "sim" aos tratos de Deus conosco. Temos que estar dispostos a abandonar nossa vida egoísta e abrir mão de tudo para chegar à plenitude de Cristo. A plenitude do Espírito Santo é o direito inato de todo filho de Deus. Ele nos conduz a uma união celestial com nossa Cabeça exaltada. Nele, os recursos celestiais estão disponíveis para nós, porque Deus fez de nosso Senhor Jesus Cristo a nossa plenitude. Onde permanece a Unção, será sempre verdade que: "Deus…, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” [Ef 1:3].

"Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!" [Efésios 3:20-21].

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