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Cristo, Nosso Tudo (1935)

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - Cristo no Céu, Nossa Suficiência

Leitura: Colossenses 2.

Enquanto esperava diante do Senhor a respeito desses dias de conferência, senti em meu coração que Ele gostaria que estivéssemos ocupados com Cristo no céu como nossa Suficiência.

Vejamos algumas passagens das Escrituras:

”Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo... ". Efésios 1:3-4.
"...bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo ." 1 Coríntios 10:1-4.
“É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo... o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir." Atos 7:38.
"...a nossa suficiência vem de Deus... " 2 Coríntios 3:5.
"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." 2 Coríntios 4:7. 


Todas essas passagens têm a ver, de uma forma ou de outra, com suficiência. Essa suficiência está ligada ao nosso Senhor Jesus Cristo. O que nos ocupa aqui é tocar em uma questão cuja resposta todo cristão deve ter certeza e clareza: Qual é o propósito supremo que governa a vida de um filho de Deus? É muito importante que sejamos capazes de responder a essa pergunta. Creio que a resposta correta é: o propósito supremo da vida do filho de Deus é aprender sobre Cristo.

Deus encheu Cristo com toda a Sua plenitude. Nele habitam todas as riquezas do conhecimento e da sabedoria. E essa plenitude é para nós. O apóstolo Paulo faz esta declaração, dizendo que somos "abençoados com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo". Assim, nossa tarefa como crentes é aprender com Cristo para que possamos chegar, de forma viva, à Sua plenitude. Isso governa tudo. Todo trato de Deus com Seu filho é para levá-lo a um conhecimento mais pleno de Cristo. Todo o resto em nossa vida será apenas o resultado e a consequência desse conhecimento.

Tenho ouvido muitas pessoas dizerem que o propósito de Deus, ao nos salvar, é que salvemos os outros. Mas isso é apenas parte do propósito de Deus. Não pode haver serviço real para o Senhor sem um conhecimento pessoal dEle. Jamais podemos conduzir alguém a um conhecimento que não tenhamos, nem podemos conduzir alguém além do nosso conhecimento vivo de Cristo. Portanto, tudo depende da medida do nosso conhecimento de Jesus Cristo.

Se vivermos tanto quanto Matusalém, jamais esgotaremos a plenitude de Jesus Cristo. Sempre há mais a descobrir nEle. Portanto, creio que nossa ocupação na eternidade será conhecer a Cristo cada vez mais. Nosso propósito de vida é entrar na suficiência de toda a plenitude de Jesus Cristo para nós. Se isso estiver perfeitamente claro, a pergunta surgirá:

Como podemos aprender sobre Cristo?

Antes de respondermos a esta pergunta, vejamos primeiro o contexto dessa plenitude e suficiência de Cristo. Talvez você se surpreenda se eu disser que esse contexto é um DESERTO. Só podemos conhecer a suficiência de nosso Senhor Jesus Cristo se estivermos dispostos a ir para o deserto.

Ora, o deserto sempre foi o melhor lugar para a educação espiritual. Você pode pensar que não há muito a aprender num deserto. No entanto ali é o melhor lugar para aprender coisas celestiais. Foi assim com Abraão; foi assim no caso de Moisés; foi verdade com Israel. O deserto também teve um lugar definido na vida de Paulo. Quer o interpretemos de forma literal ou espiritual, o fato é que o povo de Deus foi, repetidas vezes, enviado para o deserto. Muitos de nós sabemos o que tal "deserto" significa.

Quando Deus impõe Sua mão sobre um povo, Ele sempre o isola de tudo o que não é dEle mesmo; isto é, Ele o isola de todo o âmbito de sua vida natural e o coloca, por assim dizer, fora do mundo natural. Vemos isso no caso do povo de Israel. Faraó estava permitindo que eles fossem para o deserto; ele queria que eles servissem a Deus de forma indiferente: parte no Egito e parte na terra. Mas isso jamais poderia agradar a Deus. O mínimo irredutível de Deus era: nem uma unha deveria ser deixada para trás [Êx 10:26]. O povo de Deus deveria ser absolutamente separado do Egito. Portanto, o Mar Vermelho se interpôs entre Seu povo e os egípcios. Deus providenciou que eles permanecessem no deserto até que aprendessem a lição. Deus tinha grandes lições para ensiná-los ali. A permanência de Israel no deserto tinha que servir de exemplo às gerações vindouras. A dispensação da igreja – ainda distante no futuro – deveria derivar sua instrução deles. No deserto, Deus estabeleceu princípios eternos. As coisas que aconteceram a Israel "se tornaram exemplos para nós" [1Co 10:6].

Deus isola Seu povo de todo o reino da natureza. Você sabe quão pouco o homem natural prevalece no deserto. Não importa quão intelectuais e poderosos sejam os recursos naturais. Não é de muita utilidade em um deserto. Você pode ser um excelente aluno, um esplêndido empresário ou organizador, mas tudo isso não serve para muita coisa em um deserto. Para um homem que está plantado sozinho no meio de um deserto, sua própria inteligência não é de grande valia, suas capacidades naturais não o levarão muito longe.

Então você vê o que importa. Quando Deus nos coloca em Suas mãos, Ele nos tira do reino daquilo que somos por natureza. Esse é o significado do deserto. O objetivo de Deus é fazer de Cristo tudo. Enquanto pudermos fazer coisas, enquanto tivermos recursos em nós mesmos, não poderemos conhecer Jesus Cristo. Cristo permanecerá um reino inexplorado para nós.

Na primeira carta aos Coríntios, encontramos algumas declarações definitivas a respeito de Cristo no deserto. "Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo”. Sempre que Israel se deparava com uma nova situação de necessidade, o que Deus fazia por eles para suprir essa necessidade era dar-lhes uma ilustração de Cristo. Se precisassem de alimento, o céu o proveria. O que receberam era um tipo de Cristo. Assim, aprenderam a conhecer Cristo no deserto como seu alimento e sua bebida. Esta é uma grande ilustração histórica para a igreja: Cristo no céu é a sua suficiência.

O que foi verdade para Israel historicamente também foi verdade para Jesus Cristo voluntariamente. Cristo aceitou essa posição de dependência para Si mesmo. Ele escolheu viver inteiramente dos recursos celestiais. Tudo o que diz respeito a Cristo aqui na Terra fala de Sua pobreza. Ele não possuía nenhuma das riquezas deste mundo. Ele não desfrutava das vantagens que este mundo poderia proporcionar e nasceu em um lar muito pobre. No início de Sua vida, Ele teve que trabalhar para sobreviver. Sua vida foi até o fim limitada pelo lado natural. Mas assim Ele quis que fosse e escolheu viver dos recursos celestiais em vez dos meios terrenos. Ele cumpriu todo o Seu ministério como se tivesse recursos celestiais. Podemos ver isso mais plenamente mais tarde.

A igreja, quando inteiramente nas mãos do Senhor, será guiada pelo mesmo caminho e será conduzida a essa dependência. Tudo o que é da natureza deve cessar, para que ela possa aprender que toda a sua vida está ligada a Cristo no céu, e todos os seus recursos estão somente nEle.

Mas é simplesmente maravilhoso viver nos céus! É um reino de constantes descobertas, de maravilhas contínuas. Dia após dia, sentimos quão impossíveis as coisas são vistas do ponto de vista natural. Sabemos em nós mesmos que não podemos enfrentar as situações e suprir a necessidade. Nossa natureza é governada por este grande "eu não posso". Vemos isso na vida de Paulo. Ele diz do homem natural que ele "não pode conhecer as coisas de Deus". Essa é a razão pela qual os recursos naturais são inúteis na esfera das coisas divinas. Mas ser levado à compreensão desse fato é ser levado a um reino de experiências maravilhosas, um reino de constantes descobertas de quão rico e pleno Cristo é para nós. Somente aqueles que reconhecem sua própria fraqueza e fracasso sabem a força e a plenitude maravilhosas que há em Cristo. Com o passar do tempo, nos deparamos com uma situação impossível. Não há força em nós para suprir essa necessidade. Não sabemos como superar isso. Se formos abandonados a nós mesmos, fracassaremos. Mas agora estamos entrando em uma nova experiência. Estamos aprendendo algo que nunca havíamos conhecido antes. Vemos que o Senhor nos colocou em tal situação para que possamos descobrir mais dos recursos de Cristo. No início, pensamos que iríamos desmoronar; mas, ao prosseguir, apesar de todas as aparências, aprendemos lentamente as lições do deserto, de modo que assumimos uma nova posição interior, onde podemos enfrentar demandas maiores.

Assim, aprendemos pela experiência que o Senhor está à altura de todas as situações, que Cristo tem o que precisamos. Em vez de desanimarmos, carregamos um espírito de vitória, embora não tenhamos mais força em nós do que antes. Somos tão incapazes em nós mesmos quanto sempre fomos. Mas começamos a descobrir quão capaz o Senhor é, quão grande é a Sua plenitude em nosso vazio. Ele é a Força em nossa fraqueza, Ele é a Sabedoria para nossa tolice. Nossos recursos não são mais terrenos, são recursos celestiais em Cristo.

Esta foi a experiência de Paulo quando estava na prisão. Imagine estar no lugar dele! Privado das bênçãos temporais, seu trabalho nas igrejas aparentemente encerrado, privado de sua liberdade, em evidente necessidade física e temporal. Toda a situação em que se encontrava era deprimente. Ele estava diante de uma execução iminente. E então ele começa a escrever: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais." Ele está no "deserto", mas vive com base em Cristo. Portanto, ele é triunfante.

E por ter aprendido tanto sobre Cristo, ele tem sido uma bênção para um número incontável de crentes até hoje. Ao lermos suas cartas, recebemos bênçãos sempre novas de suas páginas. As riquezas de Jesus Cristo fluem para nós em abundância por meio de Seu servo Paulo. Paulo conhecia a Cristo. Mas havia um deserto espiritual no contexto daquela vida, isto é, uma esfera onde a natureza não podia ajudar. Por isso, ele escreve: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro…” [2Co 4:7]. Esse é o deserto da nossa própria natureza — vasos de barro. "O nosso homem exterior se corrompe” [está perecendo - 2Co 4:16]. Paulo havia aprendido a autossuficiência de Cristo no deserto do homem natural.

Então, veja bem, a tarefa suprema de um crente é aprender sobre Cristo. Isso nos leva a uma posição de poder e plenitude espiritual, o que significa viver uma vida de vitória e frutificação.

Há muitos que não querem o deserto. Trabalham para o Senhor com suas próprias forças. Tais pessoas não conhecem o Senhor Jesus. Não aprenderão sobre Cristo. Mas se dermos ao Senhor o Seu lugar em nossa vida, pode ser que Ele nos leve a um deserto para que Ele se revele a nós em Sua plenitude, para que aprendamos sobre Cristo e Sua suficiência.

Que o Senhor use estas mensagens para nos mostrar a nossa pobreza e nos revelar a Sua plenitude.

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