por T. Austin-Sparks
”Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo.... Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.... De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna... Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida." (João 6:28-34,38,40,53-58).
“Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo." (João 7:17).
"A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra." (João 4:31-34).
Temos três coisas implícitas nessa declaração de nosso Senhor Jesus.
Primeiro: o Senhor Jesus tem uma fonte secreta de força. "Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.” (Jo 4:32).
Em segundo lugar: há uma ligação entre a vontade de Deus e a VIDA."A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou." Lembramos que, naquele momento, o Senhor Jesus estava com fome e muito fraco e sentou-se junto ao poço, cansado da viagem. Quando os discípulos voltaram da cidade onde haviam comprado comida, encontraram-no notavelmente revigorado. Pensaram que alguém lhe havia trazido comida. Mas o Senhor explicou-lhes que a renovação de Sua vida veio de fazer a vontade de Seu Pai. Isso mostra uma estreita ligação entre fazer a vontade de Deus e a "Vida".
Terceiro: A ligação entre isso é um propósito divino e o cumprimento dele. "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra." A vontade do Pai representava um propósito divino, e o Senhor Jesus diz que estava ligado a esse propósito. Realizar esse propósito divino era uma satisfação maior para Ele do que as coisas terrenas. Podemos dizer que Ele encontrou a Sua Vida fazendo a vontade de Deus.
Portanto, um fator importante para nós é que a obediência é o caminho para a plenitude de Deus. Foi assim no caso do Senhor Jesus. Quando Ele disse: "De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna", isso mostra claramente que a união com Cristo, segundo a vontade de Deus, significa Vida para nós. Assim, a vontade de Deus está no relacionamento de vida e unidade com o Filho.
Ora, o alimento é ingerido para a manutenção da nossa vida, satisfazendo as nossas necessidades e servindo para o nosso desenvolvimento e crescimento. Mas tudo isso está relacionado à vontade de Deus. Fazer a vontade de Deus é como ingerir alimento para viver. Quando fazemos a vontade de Deus, estamos tomando sustento para a nossa Vida. A nossa necessidade é satisfeita, crescimento espiritual é mantido. O Senhor Jesus disse de Si mesmo: "Eu vivo pelo Pai", e "quem de mim se alimenta por mim viverá" [Jo 6:57]. O Senhor Jesus viveu devido a Sua união com o Pai. E nós vivemos devido a nossa união com o Filho.
O fator essencial nessa união é a obediência. Satanás pretendia destruir a vida do Senhor — o último Adão — da mesma forma que havia conseguido destruir o primeiro Adão: levando-o a desobedecer a Deus. Mas o Senhor Jesus enfrentou o diabo apelando à Palavra de Deus. Três vezes Ele lhe disse: "Está escrito". Isso sustentou sua vida e venceu o príncipe das trevas e da morte.
Obediência à vontade revelada de Deus significa libertação da morte. É isso que queremos dizer com a manutenção da nossa vida. Essa atitude foi verdadeira para o Filho de Deus ao longo de Sua vida. Sendo obediente até a morte, e morte de cruz, Ele venceu a morte. Portanto, Ele está vivo para sempre. Portanto, tudo está ligado à obediência na questão da vida. Imediatamente, quando negamos obediência a Deus, limitamos a Vida do Senhor em nós e impossibilitamos o progresso. Obediência é Vida.
Este alimento espiritual não apenas sustenta a nossa Vida, como também concede aumento, nos conduz à plenitude de Cristo. Crescemos ao consumir esse alimento, e a Vida aumenta pela obediência. Em Filipenses 2, somos informados de que o Senhor Jesus foi obediente ao Pai até o fim, "Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome" [Fp 2:9]. Essa é a plenitude resultante da obediência. Cada novo ato de obediência nos conduz a uma plenitude maior em Cristo, ao crescimento espiritual. A desobediência, por outro lado, traz limitações e impede o fluxo da Vida.
Este, então, é o significado do alimento espiritual: fazer a Sua vontade, ser obediente em todas as coisas. Essa alimentação espiritual está relacionada à nossa união com Cristo em Sua ressurreição. É viver daquilo que Cristo é na morte e ressurreição. No contexto de João, capítulo 6, temos a Páscoa. Em conexão com o seu sentido espiritual, o Senhor Jesus alimentou uma grande multidão. Os judeus estavam prestes a comer o cordeiro pascal. Mas antes que isso acontecesse, temos aqui uma multidão faminta, e Ele – o Cordeiro de Deus – os alimenta com pão, dizendo: "Eu sou o pão da vida". Ele associa isso à Páscoa, à Cruz, ao Cordeiro imolado, dizendo, na prática: "Eu sou de vocês. Na minha morte e ressurreição, isto é, em MIM, vocês tem Vida". É Cristo concedido a nós.
Temos uma cláusula notável em João 6:27, onde o Senhor diz: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo." Aqueles a quem o Senhor dirigiu esta palavra sabiam muito bem o que Ele queria dizer. Sabiam que não lhes era permitido levar qualquer cordeiro para a Páscoa. Deveria ser um cordeiro sem defeito. Então, cada cordeiro tinha que ser levado ao templo para ser examinado pelos sacerdotes quanto à sua absoluta perfeição. E quando estava conforme os requisitos exigidos, os sacerdotes colocavam o selo do templo sobre ele e o sacrificavam. Todos sabiam o que aquele selo significava. Então, o Senhor Jesus adotou esse costume familiar, relacionando-o a Si mesmo, dizendo: "A este o Pai selou." Cristo iria se entregar ao Seu povo como alguém que o Pai havia declarado absolutamente perfeito. Ele estava se entregando para ser o alimento deles, para que pudessem viver por meio dEle e andar em obediência a Ele, assim como Ele havia sido obediente ao Seu Pai.
Nós também somos "selados" pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo. O apóstolo Paulo escreve aos efésios que eles são "selados com o Espírito da promessa" [Ef 1:13]. Deus conhece os que são Seus. Nós somos Sua possessão. Recebemos o selo do Pai como penhor de que Ele nos escolheu, de que somos aceitos no Amado, de que Ele não nos rejeitou. Somos aceitos em Cristo como perfeitos. Essa comunhão completa com Cristo implica nada menos do que uma entrega total a Ele, uma consagração de tudo o que é pessoal, de toda a vontade própria, para podermos dizer com sinceridade: "Estou crucificado com Cristo. Cristo vive em mim.” [conf Gl 2:19,20].
Comida e bebida são coisas espirituais. Significam permanecer "em Cristo" e estão relacionadas a fazer a vontade do Pai em todas as áreas da nossa vida. Mas a questão que surge aqui é: Queremos realmente viver? Lembre-se: só "viveremos" de verdade se cumprirmos a vontade do nosso Senhor, se permitirmos que o Senhor Jesus seja a nossa Vida, sendo perfeitamente obedientes a Ele. Nossa vontade é uma vontade corrompida. Desejos pessoais são sempre corrompidos. Somos carne. Mas não pode haver nada disso "em Cristo". O pecado foi tratado e julgado na cruz. Ali foi manifesto que a humanidade perfeita de Cristo foi mantida e livre de qualquer corrupção até o fim. Agora, aquele Cordeiro perfeito de Deus nos foi dado. Temos permissão para recebê-Lo e permanecer nEle. Aquele que cumpriu completamente a vontade de Deus permanecerá em nós. Assim, cresceremos. Comer Sua carne e beber Seu sangue significa crescer nEle, para que Seu poder se manifeste em nós. Ele irá, e deve, crescer até que sejamos transformados à Sua semelhança, até que Sua imagem seja vista em nós.
Agora, qual é o propósito de Deus para nós? O Senhor Jesus disse que a vontade do Pai era "realizar a Sua obra". Qual era essa obra? Vejamos mais uma vez o capítulo 4 e a necessidade daquela mulher samaritana. Ela não conhecia a verdadeira vida. Quando chegou ao poço, estava em grande necessidade. Levada a conversar com o Senhor sobre a vida, ela finalmente viu que Cristo era a Vida. "Aquele que crê em Mim tem a vida eterna." E a mulher creu. Quando os discípulos voltaram da cidade, encontraram o Senhor Jesus maravilhosamente renovado. Ele estava plenamente satisfeito, pois havia cumprido a vontade do Pai. Qual era essa vontade? Era dar Vida a todos os que o Pai Lhe havia dado.
A obra de Deus é levar as almas pobres a conhecer a Vida em Cristo. Quando cumprimos nosso ministério sendo canais de Vida para os outros, logo descobriremos que isso é mais satisfatório do que qualquer outra coisa. Se você já levou uma alma a Cristo, sabe o que significa satisfação. Levar a Vida divina às almas necessitadas enche o coração de tanta alegria e satisfação que os desejos terrenos desaparecem. Procuremos levar os pobres pecadores a Cristo, pois quando estivermos nessa obra, conheceremos o que é a verdadeira Vida, uma vida de perfeita obediência a Deus, devotada à vontade do Pai. Esta era a lei da Vida do Senhor Jesus. Este é o Maná escondido, o sustento secreto da nossa vida. Aqueles que não conhecem o Senhor nada sabem disso. Mas aquele que vive de Cristo conhece esse alimento. Ele sabe que fazer a vontade de Deus é Vida. Quanto mais formos obedientes a essa vontade divina, mais os rios da Sua Vida fluirão em nós. Busquemos aquele tipo de alimento que o mundo desconhece, mas sobre o qual o Senhor disse: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra."
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:10).
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