por T. Austin-Sparks
Capítulo 5 - Nossa Vocação Celestial
Leitura: Mateus 3:13-4:11 Como vocês sabem, estamos nos ocupando nesses dias com a biografia de Jesus Cristo escrita pelo Espírito Santo na história espiritual dos crentes. Falamos do capítulo desta biografia que contempla o batismo, a unção e a tentação do Senhor Jesus. Vimos que são três partes de uma só coisa. Cada uma depende da outra e nunca devem ser separadas, mas, por falta de tempo, foi necessário interromper após a segunda parte. Então, agora, vamos abordar a terceira parte, a tentação do Senhor Jesus no deserto. É muito importante reconhecer qual é o contexto da tentação, pois ela não é algo em si, nem foi apenas um incidente na vida do Senhor Jesus. Ela tem uma história muito longa, que remonta ao Jardim do Éden e ao primeiro Adão. Permitam-me apenas dizer aqui, para ajudá-los em sua leitura da Bíblia, que é sempre importante ver qualquer parte da Escritura em relação ao todo e ver como ela se encaixa na revelação completa. Este é um exemplo muito especial, pois esta tentação no deserto, como acabei de dizer, nos leva de volta ao Jardim do Éden e nos coloca ao lado do primeiro Adão. Como vocês sabem, aquele homem foi colocado em liberdade condicional. Ele deveria responder a seguinte pergunta: Ele viveria pela vida divina ou viveria em si mesmo e não a partir de Deus? Seria uma questão de Deus ser tudo ou, como Satanás sugeriu, o homem ser autossuficiente? Essa era a questão das duas árvores. Uma árvore, a árvore da vida, era um símbolo da vida divina pela qual Deus queria que o homem vivesse, e a outra árvore, a árvore do conhecimento do bem e do mal, era o símbolo do homem sendo autossuficiente. Portanto, a questão era se o homem seria absolutamente dependente da vida divina ou se dependeria de si mesmo. Bem, sabemos que Adão falhou, e o resultado imediato foi que ele foi expulso de um jardim para um deserto, e o Senhor disse a ele que a partir daquele momento a terra produziria espinhos e abrolhos — na verdade, tudo o que representava uma maldição sobre a terra. Assim, o primeiro Adão, por causa dessa escolha errada de vida, encontrou-se num deserto, e o deserto representa o homem fazendo uma escolha errada. Adão fracassou em sua provação. Passamos alguns séculos e chegamos a Israel, e essa mesma questão lhes foi apresentada. Foi a chave para a sua história. Quando foram tirados do Egito para um deserto por quarenta anos (e espero que você esteja lendo Mateus 4: Jesus esteve no deserto por quarenta dias e quarenta noites, então o mesmo princípio está ali também), a questão era: Viveriam pela vida divina ou, em rebelião, buscando ser autossuficientes? Bem, sabemos que, nessa provação, Israel também falhou. Então, Deus apresenta a mesma pergunta a um homem e a uma nação: "Vocês viverão pela Minha vida ou serão autossuficientes?" O deserto é certamente um bom lugar para testar isso! Deus é muito prático. Se Ele nos coloca em um deserto, a questão de fato se torna muito real: Podemos enfrentar a situação ali, ou isso só será possível se Deus for a nossa suficiência? Essa foi a questão com o primeiro Adão e a primeira nação; pelo menos, foi a primeira nação no que diz respeito à Bíblia. Agora chegamos à terceira questão. Temos o primeiro Adão, depois temos Israel, e depois temos o último Adão, e O encontramos no mesmo lugar onde tanto o primeiro Adão quanto a primeira nação falharam. Ele está num deserto e também em provação por quarenta dias e quarenta noites. Vocês sabem que o número quarenta na Bíblia sempre significa um tempo de provação. A questão com o último Adão é exatamente a mesma questão do primeiro: Ele viverá em absoluta dependência de Deus, Seu Pai, ou assumirá esta vocação de vida com Suas próprias forças? Esse teste foi muito prático, pois se torna muito prático se você não tiver comido nada por quarenta dias e quarenta noites! É uma questão de como você conseguirá algo para comer, pois parece que você vai morrer. Então, naquele momento, era uma questão de vida ou morte, mas a questão, é claro, era mais profunda do que apenas a questão do pão. É essa que chegamos aqui: "Nem só de pão viverá o homem". A questão era se Ele enfrentaria a obra desta vida apenas de forma natural ou de forma divina, de se Ele tentaria encontrar os recursos somente em Si mesmo ou em Seu Pai. O Senhor Jesus responde a isso no Evangelho de João, quando, no capítulo cinco, diz: "O Filho nada pode fazer de Si mesmo” [Jo 5:19], pois essa é a força da palavra grega. Não está nEle fazê-lo, e essa é a posição que Ele aceitou voluntariamente — dependência absoluta de Seu Pai. "As obras que eu faço, não as faço por Mim mesmo”.As palavras que eu falo eu não falo DE MIM MESMO: É o Pai quem faz as obras, e é o Pai quem fala as palavras. Jesus havia aceitado essa posição, mas havia uma tremenda batalha relacionada a ela. Essa é a questão que confronta cada um de nós, e deveria ser a questão que governa a vida de cada crente. Estávamos dizendo que todos fomos chamados para a mesma vocação, e que o serviço a Deus se resume em uma coisa, que é trazer o Senhor Jesus para uma situação. Esse é o serviço a Deus de forma abrangente. Você consegue fazer isso por si mesmo? Podemos trazer o Senhor para uma situação com nossa própria força, sabedoria e recursos? Bem, você sabe a resposta para isso! A própria justificativa de você ser um cristão é que através de você o Senhor é trazido a este mundo, que onde você está o Senhor entra. Ele entra em cena através de você contra todas as forças deste mundo e de Satanás, e é porque você está ali que Ele entra. Agora, se isso fosse perguntado a você individualmente, o que você diria? 'Não, IMPOSSÍVEL! Isso nunca pode acontecer comigo!' Acho que há muita história por trás disso. O Senhor tira nossa própria força e nsabedoria e nos torna dependentes dEle. Esse é o princípio da vocação celestial. Agora chegamos às três tentações, e devemos nos lembrar qual é a questão envolvida. A questão é a vocação, aquilo para o qual estamos aqui e, como eu disse, estamos aqui para dar lugar ao Senhor. Essas três tentações estão imediatamente conectadas a essa vocação. Devemos ver como cada tentação se relaciona com essa vocação, porque o objeto explica os métodos de Satanás. Você entende isso? Satanás sabe o que nossa presença significa para o seu reino. Ele sabe muito bem por que estamos aqui, assim como sabia por que o Senhor Jesus estava aqui, e, portanto, deve frustrar esse objetivo de alguma forma. Ele trabalha muito sutilmente e aumenta sua tentação à medida que avança, mas sabe o que busca no final. Toda a questão é a base da vida. A base da sobrevivência cristã, e o grande fator básico, é a vida divina, e Satanás sempre quis derrotar isso. No Jardim do Éden e com Israel, seu único objetivo era derrotar a vida Divina.
Na primeira tentação, Jesus está em fraqueza física por falta de alimento, e isso é uma questão de Sua própria vida. Satanás vem a Ele em Sua fraqueza e diz: "Se o que foi dito no Jordão é verdade, e Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães". O que Jesus respondeu? "Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus". A primeira coisa sobre este pão da vida é que se trata de um tipo de vida diferente da vida natural. É isso que está oculto nesta primeira tentação. Há uma grande diferença entre a vida natural e a vida divina. Creio que devemos notar que o Senhor Jesus, ao citar aquela Escritura de Deuteronômio 8, a citou corretamente. Agora, Satanás vai citar as Escrituras, mas o fará incorretamente, e essa é uma de suas maneiras. Ele pega as coisas divinas e as distorce. Ao citar aquela Escritura, o Senhor disse: "Nem só de pão viverá o homem". Ele não disse: "Vocês não precisam de pão natural". Há certos tipos de cristãos hoje, e sempre houve ao longo dos tempos, que pensam que são muito espirituais porque passam fome. Jejuam o máximo que podem, geralmente parecendo muito miseráveis. São sempre muito exigentes com a comida — e acham que isso é ser muito espiritual! Mas o Senhor não diz que é isso que devemos fazer. Ele diz que existe o pão natural, mas não é a única coisa, pois existe um pão que é muito mais importante, e esse é o pão VERDADEIRO. Isso é bem diferente. Muitos homens estão tentando cumprir a obra de Deus em bases naturais! Seus recursos são recursos naturais produzidos por eles mesmos, e o Senhor diz: "Não!". Há toda a diferença entre os mundos terrestre e celestial, entre a vida natural e a vida Divina. Mas essa vida não é apenas diferente; é algo a mais. Não é apenas pão, mas algo mais do que isso, algo a mais do que o natural. Você pode tomar seu café da manhã – e não há nada de errado em tomar café da manhã, ou qualquer outra refeição – mas se você pensa que vai fazer a obra de Deus com um bom café da manhã, você está se enganando. Entende o que quero dizer? Isso é algo a mais em relação ao natural, algo muito mais do que qualquer coisa que os alimentos dessa terra podem nos dar. É o grande fator extra Divino. Vejam, estamos repetindo a vida de Cristo, e posso dar-lhes exemplos da vida dEle. Vejam o Seu encontro com a mulher samaritana. O Senhor Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto ao poço e enviou os Seus discípulos à cidade para comprar pão. Então a mulher veio da cidade, e vocês conhecem a conversa que tiveram e como toda a vida do Senhor Jesus foi derramada sobre aquela mulher como água viva. Enquanto Ele falava das coisas celestiais, enquanto revelava àquela mulher os segredos celestiais, e enquanto falava sobre a vida celestial mais profunda do que aquele poço e mais eterna do que a água daquele poço, embora fosse o Poço de Jacó, todo o Seu cansaço desapareceu e Ele era um Homem renovado. Os discípulos voltaram a Ele com os seus pães e disseram: "Mestre, coma!". Então olharam para Ele e perguntaram: "Alguém lhe deu pão para comer? O que lhe aconteceu? Ora, Ele é um novo homem e não quer o nosso pão." Veja bem, Ele estava falando sobre a vida, e de nada adianta falar sobre a vida se você não for um exemplo dela. Ele disse: "Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis... A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou" (Jo 4:32,34). Pense nisso um pouco e lembre-se de que você está lidando com esses princípios eternos. Este é o pão EXTRA, que é mais do que o pão natural. Alguns de nós que ministramos muito percebemos que, quando temos uma longa ministração, muitas vezes nos sentimos muito cansados, e naturalmente a pergunta é: "Conseguiremos? Vamos passar por essa longa conferência?" Mas quando chegamos ao final da conferência, temos uma nova vida. É realmente assim que acontece. O fato é que, quando amanhã à noite chegar e esta conferência terminar, terei em mãos exatamente o que dediquei durante toda a semana — e precisaremos de mais uma semana! Bem, eu não sou um exemplo, mas estou tentando enunciar o princípio: "Não somente de pão, mas..." Esta é uma daquelas muitas ocasiões em que essas duas palavras são colocadas uma contra a outra: "Não... mas..." Há mais uma coisa: esta vida divina é uma questão de fé. O Senhor Jesus disse: "De toda palavra que sai da boca de Deus". Bem, existe a palavra escrita na Bíblia, mas você acha que é suficiente que ela seja a Palavra de Deus, escrita na Bíblia? Não, você precisa se apegar a ela pela fé, e nós precisamos nos apegar a esta vida pela fé. Você se lembra da mulher que veio ao Senhor Jesus no meio da multidão e disse: "Se eu pudesse tocar a orla do seu manto, ficaria curada". E embora a multidão O pressionasse, não havia mais ninguém naquela multidão que recebesse aquela vida. Foi a mão da fé daquela mulher, e o Senhor Jesus disse: "A tua fé te salvou". APROXIMAR-SE da palavra da vida pela fé é algo que devemos sempre fazer. Paulo diz: "APROPRIA-TE da vida eterna" (1Tm 6:12), pois ela está lá. Exerça fé nisso. Essas coisas podem parecer muito simples para você, mas são muito importantes e reais. A passagem que o Senhor Jesus usou para responder a Satanás é de Deuteronômio 8:2 e 3, e você precisa analisar o contexto. Está no final dos quarenta anos no deserto, e diz: "Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem." O que temos aqui? O povo não está indo para o deserto agora, pois está atravessando o Jordão para a terra, mas há uma história por trás deles. Por quarenta anos, Deus provou que existe uma vida além da natural. Você não acha isso uma coisa boa? Você poderia me dizer: "Você está falando sobre esta vida Divina, mas PROVE. Bem, posso lhe dar mais de quarenta anos — mas não, não estou falando de mim. Estou falando da história da Igreja, que tem dois mil anos. Será que a Igreja sobreviveu a todos esses séculos por sua própria força? A Igreja já não esteve em muitos desertos? Já não houve muita fome? Sim, repetidamente a Igreja passou por desertos terríveis, com morte por toda parte e sem nada neste mundo para sustentá-la. Ela poderia ter morrido repetidas vezes, mas não morreu. Ela está viva hoje, e há uma grande história do sustento divino do Senhor. E o que é verdade para a Igreja é verdade na história de muitos crentes. Muitos de vocês poderiam dizer: 'Se dependesse de mim, estaria morto hoje. Minha própria sobrevivência é um testemunho de algo sobrenatural.' Isso é verdade? Oh, sim, é verdade, e tem que ser verdade até o fim. Então, aqui temos uma história por trás do que o Senhor Jesus está dizendo, e Ele é capaz de colocar a forte prova da história em Suas palavras quando responde a Satanás. Agora, o Senhor Jesus está num deserto, mas o que Ele terá que enfrentar nos próximos três anos e meio? Não creio que Satanás vá se conter diante de qualquer coisa para destruir o testemunho da vida divina em Jesus. Repetidamente, ele ataca a Sua vida de todas as maneiras possíveis para apagar o testemunho de Jesus, mas o Senhor persevera. Ele vive, e vive ainda hoje, pois essa vida divina triunfou sobre tudo. Essa biografia precisa ser escrita nos nossos corações. Estamos num deserto — ou você acha que sua vida cristã é o Jardim do Éden, com tudo tão belo e com tudo o que você pode desejar no mundo? É assim com você? Bem, claro, é muito bom aqui em Hilterfingen, mas você sabe muito bem que precisa voltar. Você pode se sentir como Pedro: "Vamos construir três tendas e ficar em Hilterfingen pelo resto de nossas vidas!", mas pode chover na próxima semana e, mesmo que não chova, você sabe que precisa voltar para sua situação difícil. Tudo pode ser muito parecido com um deserto espiritual, mas você tem esta grande verdade: existe uma vida Divina, que é uma vida diferente, uma vida extra, e você pode viver por essa vida onde quer que esteja. Suponho que existam poucas situações mais difíceis do que aquelas em que nosso querido irmão Watchman Nee se encontra há dezoito anos. Pelo que sabemos, ele está vivo, e acredito que seu testemunho espiritual ainda esteja vivo — e isso é um milagre. Podemos não ter a experiência dele, mas podemos conhecer o deserto e Deus PODE preparar uma mesa no deserto. O ponto, então, da primeira tentação foi este: O Senhor Jesus usaria Seus próprios poderes para salvar a Sua própria vida, ou dependeria de Deus? Mais tarde, Ele dirá: "Quem perder a sua vida por minha causa, achá-la-á" (Mt 10:39), e esse é o princípio. Satanás falhou nesse ponto, então ele vai mudar de posição, pois ainda não desistiu.
Agora chegamos aos métodos de cumprir nossa vocação. Satanás levou o Senhor Jesus a Jerusalém, colocou-O no pináculo do templo e disse: “Atira-te abaixo". Agora Satanás cita as Escrituras, tentando tomar o terreno de Cristo e derrotá-Lo ali: "Você crê nas Escrituras, não é? Você está pensando na Palavra de Deus. Tudo bem! Então, está escrito: "Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." Eu digo que Satanás cita incorretamente as Escrituras, pois seria isso que o Salmo 91 realmente diz? Se você ler esse Salmo, verá que Satanás omitiu a cláusula mais importante: "Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito, PARA QUE TE GUARDEM EM TODOS OS TEUS CAMINHOS”(versículo 11). Há caminhos pelas quais o Senhor não guarda as pessoas, mas Satanás omite isso. Sim, Satanás está citando o Salmo 91, e quais são “os caminhos" nesse Salmo? Acho isso muito impressionante e quase engraçado. Esse Salmo começa dizendo: "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo", e ESSE é o homem mencionado em todo o Salmo. Jesus escolheu fazer Sua morada no lugar secreto do Altíssimo, e todo cristão sabe o que é isso. Você tem uma vida oculta com Deus e permanece nela. Você tem uma vida oculta com Deus, uma vida que este mundo não vê, um santuário com Deus, um lugar secreto com o Altíssimo? Você sairá desse lugar? Você vê a sutileza de Satanás! 'Saia do seu lugar secreto e adote alguns métodos mundanos para cumprir sua vocação! Atire-se para baixo doo pináculo do templo e todos dirão: "Isso é maravilhoso!", e você fará com que todas as pessoas em Jerusalém corram para você. Dirão que você desceu do céu e que será o homem mais popular da Palestina!' - e isso terá sido feito por meio de um truque. Significaria que o Senhor Jesus era cúmplice de algo do homem natural que gosta de ter evidências e provas, pois, veja, todos em Jerusalém buscavam um sinal. Disseram-lhe: 'Mostra-nos um sinal e creremos.' Dê-nos alguma evidência ou prova que possamos ver e seremos Teus seguidores. Esta é a tentação: Use alguns métodos na obra do Senhor que o tornarão popular, algo que apelará ao sensacionalismo no homem, alguns truques. Você entende do que estou falando? Não é isso que a Igreja está tentando fazer? Ela está tentando recuperar seu poder perdido por meio de muitos truques, explorando aquilo no homem que anseia pelo sensacionalismo. Certamente podemos ver que é isso que está acontecendo! Os métodos empregados na obra de Deus para atrair multidões, para conseguir grandes reuniões, são para satisfazer esse desejo por provas e evidências. Talvez nunca na história do mundo tenha havido tanto disso. Não quero ser crítico, nem julgar demais, mas tenho uma pergunta muito importante sobre o violão e muitas outras coisas que são empregadas para tentar tornar a obra de Deus bem-sucedida. Era isso que estava neste pináculo do templo. Você atrairá multidões se fizer esse tipo de coisa, mas poderá sair do lugar secreto do Altíssimo, aquele lugar escondido do mundo que é o lugar do poder. Posso apenas dar algumas dicas, mas sei do que estou falando e creio, queridos amigos, que tudo o que precisamos é do poder do Espírito Santo no Evangelho. Não creio que seja necessário ter todas essas outras coisas. Creio que as pessoas que realmente querem a realidade serão atraídas para onde há realidade, e as que não querem a realidade, bem, que se mantenham afastadas! Talvez vocês não concordem com isso, mas estou falando sobre princípios divinos da vida de Jesus Cristo, eque esses princípios de Cristo precisam ser escritos em Sua Igreja.
Chegamos à terceira tentação, e Satanás está agora mudando de posição. Ele está sendo gradualmente desmascarado e agora manifestará o que ele realmente busca. Ele sabe o que tem buscado o tempo todo e tem se movido firmemente em direção a isso. Ele levou o Senhor Jesus a um monte muito alto. Não sei, é claro, como isso ocorreu, embora não ache que tenha sido algo literal. Creio que o Senhor Jesus estava vendo tudo isso de forma espiritual. No entanto, naquele alto monte, Satanás mostrou ao Senhor Jesus todos os reinos do mundo e disse: "Eu te darei tudo isso se, prostrado, me adorares." Ah, agora tudo veio à tona! Satanás sabe para que Jesus Cristo veio a este mundo, para trazer o Reino de Deus. Ele sabe que Jesus está destinado a ser o Senhor do universo, e foi divinamente designado para isso. Se Satanás conhecia as Escrituras em Deuteronômio e no Salmo 91, também conhecia o Salmo 2, que mostra a exaltação final do Filho de Deus. Satanás sabia disso antes que o mundo existisse. Seus demônios conhecem o Senhor, pois em certa ocasião Lhe disseram: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?" (Lc 8:28). Portanto, a questão fundamental é o domínio do mundo, e essa é a única coisa contra a qual Satanás se opõe, pois ele é o deus deste mundo e não permitirá que ninguém lhe tire essa posição. Mas veja como ele é esperto! "Eu te darei tudo sem que precises ir para a cruz. Podes ter tudo sem sofrimento se fizeres apenas uma coisa: colocar-me no lugar do teu Deus e me adorar. E se fizeres isso, sei muito bem que não obterás os reinos do mundo. O meu reino está estabelecido, e aquilo para o qual vieste será perdido." É isso que está por trás de tudo, mas o que Satanás realmente está dizendo? "Compromete-te comigo como príncipe deste mundo" — e se nos comprometermos com este mundo, perderemos nosso domínio espiritual agora e depois. Veja, é a Igreja que vai reinar. Há algumas coisas na Bíblia que eu não entendo. Primeiramente, não entendo o que Paulo quis dizer quando afirmou: "Não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? ... Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?" (1Co 6:2-3). Realmente não entendo isso, mas sei que está em consonância com toda a revelação do Novo Testamento: "Se sofrermos, também com ele reinaremos" (2Tm 2:12 - ARC). Ele nos dará o Trono com Ele mesmo. É para isso que somos chamados, e é o propósito da nossa vocação: governar este mundo no lugar de Satanás. Não é algo tremendo? Esse é o destino da Igreja. Então, Satanás vê que a maneira de derrotar esse destino é nos comprometermos com o mundo, mas você não pode expulsar Satanás por Satanás, nem pode expulsar o mundo pelo mundo. A Igreja tentou fazer isso e perdeu sua posição e seu poder. Ela está em um estado precário hoje, e a razão é que se comprometeu com este mundo. Pode ter tido um motivo correto — tentar conquistar o mundo em seus próprios termos —, mas é preciso mais do que um violão para vencer o diabo! Você nunca vencerá o mundo por meios e métodos mundanos. "Adorarás somente ao Senhor teu Deus." Você deve dar a Ele o lugar supremo neste universo. "E somente a Ele servirás", não a Satanás, nem ao mundo. O que é o serviço a Deus? Lembre-se do serviço de Maria — trazer o Senhor ao Seu devido lugar, tomar posse do terreno para o Senhor e mantê-lo ali para Ele. Mas que batalha! O inimigo e todos os seus poderes estavam contra ela, mas graças a Deus pela unção! Diz-se que o Espírito que havia descido sobre Ele O IMPELIU ao deserto para ser tentado pelo diabo, mas não diz: "para ser derrotado pelo diabo". Ele foi ungido para testar a força deste grande inimigo e vencê-lo, e a unção O conduziu à vitória. Caros amigos, temos a unção. Creiamos nela! Não há NADA impossível com a unção: "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos." (Zc 4:6).
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.