por T. Austin-Sparks
Capítulo 1 – A Grandeza de Cristo
Leitura: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas”. (Efésios 4:8-10)
“Para encher todas as coisas”. Esta é uma declaração completa. Nela, como veremos em todo o contexto, está o Propósito divino, para o qual a eternidade e as eras convergem.
Sabemos que a carta aos Efésios era uma carta circular enviada a certas igrejas da Ásia; e nessa carta, como uma torrente, o apóstolo derramou a essência do seu conhecimento espiritual: um conhecimento recebido através do que, em outros lugares, chamou de “revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:12) ou: “aprouve [a Deus] revelar seu Filho em mim” (Gl 1:15-16). Essa revelação para e no apóstolo era de fato muito completa. Era um conhecimento derivado da experiência que começou na estrada para Damasco. Que conhecimento foi derramado sobre esse servo de Deus naquele tempo, naquele evento! Conhecimento que o conduziu ao deserto para reflexão, para exame do seu significado, na tentativa de entender alguma coisa de suas profundezas. Esse conhecimento o manteve no deserto por três anos – o descortinar de um novo mundo de conhecimento espiritual diante dele.
Posteriormente o apóstolo disse que, em sua história de vida, houve outra poderosa abertura do céu. Ele disse que havia sido “arrebatado até ao terceiro céu... e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir” (II Co 12:2 e 4). O termo “lícito” não é a melhor tradução para este texto, porque não transmite o que o apóstolo realmente disse. O que de fato ele quis dizer foi: “o que é impossível para o homem referir”. Isso deve ter sido uma maravilhosa plenitude de conhecimento!
Sabemos que, por diversas outras ocasiões, o Senhor Jesus veio até Paulo, esteve ao seu lado e falou com ele. Através de todas essas experiências, seu conhecimento foi crescendo. Não era possível para os apóstolos naqueles dias viajar tão rapidamente como fazemos hoje. Eles tinham que viajar e atravessar longas distâncias a pé, gastando muitas horas e noites nas jornadas, e sem dúvida o apóstolo podia meditar enquanto ia pelo caminho de um lugar para outro, por semanas, meses e anos, e esta meditação inspiradora construía nele esse maravilhoso conhecimento espiritual.
De tempo em tempo, de acordo com as necessidades e demandas específicas aqui e ali, em situações particulares, ele incorporou em cartas alguns fragmentos – poderosos fragmentos – dessa rica revelação recebida e que estava em todo tempo recebendo. De onde o apóstolo adquiriu tudo aquilo que temos hoje na parte final do capítulo oito de Romanos, voltando atrás antes da criação do mundo, nos mostrando o que aconteceu pelo ato divino quando Adão levou a criação à escravidão e a sujeitou à vaidade? Onde ele obteve todo aquele entendimento a respeito da predestinação? “os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:29). E tudo mais que está ali, que temos certeza de que nenhum homem, mesmo com o mais brilhante cérebro, através de pesquisas e estudos, poderia jamais descobrir. Aqueles últimos versículos de Romanos 8 são um poderoso fragmento da revelação!
Novamente, de onde ele obteve aquele capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, relacionado à diversidade dos corpos glorificados em ressurreição e a natureza do corpo de ressurreição dos crentes. É um capitulo muito rico! Já o exploramos profunda e grandemente, mas sabemos que não o temos sondado.
Na sua carta aos Tessalonicenses, como Paulo ficou sabendo exatamente o que acontecerá quando o Senhor retornar? O que está acontecendo com os santos que já deixaram a terra: o que acontecerá aos santos que estiverem aqui quando o Senhor retornar? De onde ele obteve essas coisas? É rico, profundo e completo: mas é apenas um fragmento de toda a riqueza do conhecimento espiritual.
Mas, agora ele está livre de todas suas viagens e muitas atividades que tinha aqui e ali. Enfim, ele podia fazer o que não conseguia antes. E, se essa carta sugere ou indica algo, é que ele podia fazer agora o que sempre desejou fazer. Era a oportunidade que tanto havia esperado – que era simplesmente derramar essa plenitude que estava acumulada por todos esses anos: derramar sua plenitude espiritual.
Não estamos surpresos que essa palavra “plenitude” é muito característica nessa carta. É a plenitude de Cristo. No entanto, o apóstolo teve que ser trazido para dentro dela. Então, por fim, ele era capaz de sentar e abrir as comportas desse estoque espiritual e derramá-lo nessa carta. Como a prisão física do apostolo naquele tempo, seu grande estoque de luz e conhecimento espiritual foi circunscrito e confinado, mas agora a soberania do Senhor ordenou que aquele aprisionamento físico pudesse tornar possível a liberação de luz para a igreja de toda esta dispensação.
Que liberação! Quando lemos essa carta de forma cuidadosa e observadora, não podemos deixar de sentir a liberação de uma represa que se rompe. Encontramos esse sentimento na linguagem com que está cheia essa pequena carta, a quebra de todas as barreiras gramaticais e a vastidão de conceitos que está ali. Pense somente nos muitos superlativos que Paulo usa! Nós chamamos as palavras repetidas de “plenitude”. Se pudéssemos realmente ter o senso do sentimento do apóstolo nesse tempo, poderíamos entender como essas palavras saltaram de sua caneta tantas vezes: “Suprema” - “Suprema grandeza de seu poder” (1:19); “Suprema riqueza de sua graça” (2:7). “As riquezas” – “a riqueza da glória da sua herança” (1:18); “riqueza de sua graça” (1:7 e 2:7). E “Glória”. Sublinhe a palavra “glória” nessa carta e perceba como ela surge constantemente. “Glória” está em todos os lugares ali. “Abundantemente” ou “Infinitamente” – “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (3:20). “Incomparável”. Esta é uma tentativa de se expressar em palavras que apelam para todo tipo de superlativos e ainda assim sem poder externar exatamente o que estava em seu coração!
E o que falar da gramática? Talvez isso não o tenha incomodado muito quando leu a carta, mas se você tentar estudá-la e sintetizá-la em algo simples, você verá que não será capaz de fazê-lo. Existe ali a mais longa sentença do Novo Testamento, sem sequer um ponto. E para quebrar as barreiras da língua, ele começa com uma linha de raciocínio, depois sai pela tangente e insere um longo parágrafo, que parece ser totalmente irrelevante, depois retorna de onde havia partido ou começado. Isso não ajuda muito se você está tentando seguir de perto a sequencia dos pensamentos. Sim, as frases e sentenças estão cheias de tangentes e interrupções.
Então, por conceito, temos esses fragmentos: “nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (1:4). A expressão “nas regiões celestiais” é repetida cinco vezes (a propósito, talvez você precise de ajuda para entender essa expressão. Ele não está falando dos céus, mas das regiões celestiais. A diferença é: o termo “os céus” está relacionado ao âmbito geográfico, se podemos assim dizer. As regiões celestiais são um conceito espiritual. A carta é baseada sobre o conceito espiritual das coisas, não geográfico). Esta expressão, repetida cinco vezes – “nas regiões celestiais” – é o local da igreja. Os principados e poderes celestiais estão observando e aprendendo com as atividades de Deus na igreja: “dos principados e potestades nos lugares celestiais” (3:10). E então, as forças diabólicas nas regiões celestiais. Que conceitos existem aqui! Quão tremendo é este Paulo e esta frase: “nossa luta... é... contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso” (6:12). Essas forças espirituais do mal nas regiões celestes, na esfera espiritual, vão muito além de toda nossa capacidade de entendimento. “Predestinado”! Essas palavras que tem sido a desgraça e problema dos teólogos através dos séculos – predestinado, preordenado, adoção. Que riqueza existe em cada uma delas! E o que dizer da repetição sêxtupla da palavra “mistério”?
Chegamos ao poderoso fragmento: “para [Ele] encher todas as coisas”. Não estaríamos certos em afirmar que o apóstolo estava tão saturado de palavras, a ponto dos portões, que continham essa poderosa torrente de conhecimento espiritual, se romperem, quase que além do seu controle? Mas o que de fato é isso? A resposta é que não se trata de apenas doutrina, luz, verdade ou ensino. A explicação é que, para Paulo, Cristo rompeu com todas as barreiras e limitações deste universo. Tudo isso nada mais era do que uma desesperada tentativa de Paulo de trazer Cristo à vista, da maneira como ele O viu, O conheceu e O entendeu. Sim, isso era uma tarefa impossível, e podemos estar certos em concluir que ninguém sentiu mais isso do que o apóstolo que fez esse poderoso esforço para trazer a grandeza de seu Cristo para a igreja. Cristo, que para Paulo ultrapassou todas as barreiras de tempo, o trouxe de volta às eras da eternidade passada, antes do mundo existir, e o conduziu – como ele usa na frase – “pelos séculos dos séculos” (Gálatas 1:5). Cristo para ele ultrapassou todos os limites de tempo, extrapolando todos os limites de espaço. Ele ascendeu aos mais altos céus e Cristo estava lá; desceu ao mais profundo abismo e Cristo já os havia penetrado e sondado. Cristo abrangeu as alturas e profundidades do espaço e, como Paulo diz, incorporou toda a plenitude divina: “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Colossenses 1:19). E mais: Cristo transcendeu todo nome, autoridade, governo, principado e potestade. Cristo estava acima de tudo e todos. Como dissemos, Paulo, talvez mais do que qualquer outro, sentiu que era um esforço desesperançado, no entanto, a grandeza do seu Cristo o conduziu a derrotar toda a limitação de linguagem para tornar visível a Cristo como Ele realmente é, em Sua dimensão e plenitude.
Mas isso não é tudo. Ao contrário do que pode vir à nossa mente e à mente do povo do Senhor, de que todas essas coisas a respeito de Cristo estavam exclusivamente isoladas Nele mesmo, Paulo viu que um corpo eleito, escolhido em Cristo, estava atrelado e incluído em tudo o que ele viu em Cristo, o qual ele chama de igreja, o complemento deste Cristo. Essa era a plenitude Dele. A palavra adequada é “o exato complemento”, o que completa Aquele a “que a tudo enche em todas as coisas” (1:23). Paulo viu esse corpo eleito atrelado nessa imensidão de Cristo. E essa é a explicação desse algo sublime, que por treze vezes nessa carta, ele chama de “graça”.
Primeiro, a indescritível e imensurável grandeza de Cristo, a glória transcendente de Cristo, a indescritível representatividade de Cristo no universo de Deus de eternidade a eternidade. E então ele diz: “Deus, ...estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo...” (2:4,5). “...nos escolheu nele antes da fundação do mundo...” (1:4). Somos trazidos para dentro como nossa herança em união com Ele. Não é de se admirar que a palavra “graça” seja mencionada repetidamente na carta! Graça! “a suprema riqueza da sua graça” (2:7).
O apóstolo não pôde se conter por muito tempo. Vimos que ele estava na prisão e, entre os períodos em que as pessoas vinham visita-lo, ele se entregou a este objeto de dupla revelação. Por um lado, a grandeza de Cristo na forma que ele a viu, e, por outro lado, a grandeza da graça em convidá-lo, assim como à igreja, para dentro dessa plenitude divina.
Graça! “estando nós mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo” (2:5). Esse é o começo da graça: união com Cristo em Sua nova vida ressurreta. Mas, se seguirmos o rastro da graça nessa carta, veremos como ela está conduzindo tudo, até ver a igreja na eternidade junto com Ele, em sua plenitude final e completa, Sua plenitude eterna e universal. Que graça!
Então, somos conduzidos ao nosso fragmento: “para [Ele] encher todas as coisas”. Esse incompreensível “Ele” – o centro de todas as coisas. Veja alguns outros fragmentos nessa conexão.
João falou a respeito disso. No primeiro capítulo de seu evangelho, ele nos diz que “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (Jo 1:3). Em Colossenses, que é a carta de Paulo paralela a Efésios, em seu capítulo primeiro, nos é dito: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia... e por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:16-18,20). Então a carta aos Hebreus, que pode não ter sido escrita pela caneta de Paulo, mas sem dúvida, foi escrita por sua influência – “nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1:2). “Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória” (Hb 2:10). Essa expressão: “Todas as coisas” em que Cristo é a essência e a substância.
É Nele em quem estamos pensando, em quem estamos concentrados, esse centro de “todas as coisas” – Jesus Cristo. Toda a Bíblia é uma história progressiva Dele: o descortinar deste poderoso “Ele”, que enche todas as coisas. A história termina com essa passagem sobre Ele encher todas as coisas e começa com um aviso, que frequentemente é esquecido e passa despercebido.. Que aviso é este? “No princípio, Deus” (Gn 1:1). Aqui é onde a Bíblia começa: mas o nome “Deus”, como sabemos, está na forma plural, indicando que existe mais de uma pessoa. Existem uma segunda e terceira pessoas reunidas nesta forma do nome de Deus. À medida que a história avança, a segunda Pessoa que estava presente lá no início se torna mais e mais conhecida. Ele assume um nome e é visto e ouvido pelo homem. Ele aparece ao homem em muitas teofanias do Velho Testamento. Às vezes, no começo, eles O descrevem como um homem aparecendo, mas quando Ele se vai, eles falam Dele como o Senhor. Esse – O Senhor. Nessas divinas aparições, Ele se torna conhecido pelo homem. Mais tarde Ele toma a forma de homem, em uma encarnação específica e vive, se move, trabalha e ensina entre os homens. Posteriormente, de uma forma mais íntima, Se revela em um corpo ressurreto às pessoas, tanto individualmente, como em grupos, e eles não tem dúvida disso. Se no princípio se questionavam se viram um espírito, no final não têm mais dúvidas. Eles sabiam quem Ele era. Eles poderiam dizer: “Nós O vimos. Nós O conhecemos”. Finalmente, Ele será visto por toda criatura no céu e na terra, pois todo olho O verá. Ele será conhecido por “uma grande multidão que ninguém podia enumerar” (Ap 7:9).
Ele nos é revelado na Bíblia em Sua singularidade com o Pai pela eternidade. Ele nos é revelado na atividade da criação, criando todas as coisas. Ele nos é revelado no meio da nação rebelde em sua peregrinação no deserto, como o anjo de Sua presença. Ele nos é revelado nessa mesma Bíblia retornando como o Monarca vitorioso, o Rei da Glória, e os portões eternos abrindo-se para receber Seu retorno após Sua campanha aqui contra o mal e os falsos dominadores deste mundo. Ele nos é revelado voltando para julgar as nações, para estabelecer Seu Reino. Estamos certos em dizer que a Bíblia é uma história progressiva e reveladora Dele, esse “Ele” que enche todas as coisas?
Note: marcamos sete estágios nesta história, Sua história. Na eternidade passada, na criação, na era do Velho Testamento, na vida terrena, na atual era e intercessão no céu, no grande Dia do Senhor e na eternidade futura. Essa é realmente a história da Bíblia. Essa é a história de uma Pessoa, a história desse poderoso “Ele” em quem estamos pensando e que enche todas as coisas.
Nessa revelação sétupla e progressiva Dele na Bíblia, a característica marcante, a característica que vem aos nossos corações com tanto conforto, é Sua graça em expansão. Note como essa graça cresce e se desenvolve. Que graça! Seu poder e Sua glória em expansão. Siga os rastros desse desenvolvimento triplo pela Bíblia – graça, poder e glória – em Cristo Jesus.
Tudo isso nos leva de volta à nossa pequena frase – não está correto chamar de pequena! – “Todas as coisas”. Ele se expandiu para a extensão plena de “todas as coisas”, e, feito isso, Ele enche todas as coisas com Ele mesmo. Sabemos que essa expressão, relacionada a Cristo, está disseminada em todo o Novo Testamento, particularmente nas cartas de Paulo como podemos notar. “Todas as coisas”. Na criação – gostaria que você notasse que isso não apenas nos diz que Ele criou todas as coisas, o que quer dizer que todas as coisas foram criadas por Ele, mas elas foram criadas Nele. Isso nos abre uma porta para uma leitura muito mais proveitosa da Palavra. Deus, através de Cristo, Seu Filho, pelo Espírito Eterno, criou todas as coisas em Cristo. Isso significa que Ele fez de Cristo a abrangente esfera em torno de quem orbitam todas as coisas da própria criação. A criação é sustentada e conectada por Cristo no entendimento e intenção de Deus. Eventualmente não existirão coisas criadas neste universo fora de Cristo, porque elas foram todas criadas Nele. Se elas se dispersaram de Cristo, elas tem a opção de retornar para Cristo nesta dispensação. Caso contrário, elas serão para sempre expulsas de todo o domínio de Cristo, e tudo o que restar será encontrado, como foi originalmente intencionado, em Cristo.
Você e eu, a igreja, somos novas criaturas em Cristo. Criaturas! Como lemos em Colossenses 1:20 “por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas”. Todas as coisas são reconciliadas em Cristo. Novamente: “para em todas as coisas [Ele] ter a primazia” (Cl 1:18). Todas as coisas debaixo de sua primazia. Ainda: “Nele, tudo subsiste” (Cl 1:17). E finalmente “para [Ele] encher todas as coisas”.
Qual é a preocupação do nosso coração enquanto tudo isso nos é dito? Não haveria uma maravilhosa e gloriosa emancipação de 90% – se não 100% – das nossas preocupações se somente tivermos a compreensão de Cristo como o apóstolo Paulo teve? Falando de outra forma, muitos dos nossos problemas não são oriundos da incapacidade da nossa mente, mas da limitação do nosso coração, no sentido de compreender e entender a grandeza do Cristo, a quem fomos introduzidos, e com quem fomos trazidos à comunhão pela graça de Deus. Não é essa a necessidade, a maior necessidade hoje em todo lugar, e particularmente na igreja de Deus, de restaurar algo dessa imensidão de Cristo? Somos tão pequenos, não somos? Tão insignificantes. Essa é a causa de todos os nossos problemas. Quão inferiores somos! Quão miseráveis! Quão pequenos! Que povo de mente e coração restrito somos nós! Quão ocupados ficamos com as pequenas coisas que, no final das contas, não importam muito! Como nos contentamos com esse nível inferior em que vivemos! Como nossa natureza sempre reduz as coisas para o nível que não é digno de Cristo!
Talvez você já tenha pensado como eu: como esse homem Paulo, no exato momento em que escrevia essa carta, pôde escrevê-la? Ele está na prisão, cortado de todas as suas atividades e obra, separado de todos os seus amigos das igrejas. Há um movimento de tentar isolá-lo espiritualmente e de outras formas, o deixando, o afastando; existe um poderoso movimento para desacredita-lo, a fim de destruir sua obra. As igrejas, de maneira alguma, respondem a todas as suas orações, súplicas e desabafos. Dele era a vida que foi dada por eles – e veja como eles são! “todos os da Ásia me abandonaram” (II Tm 1:15). Considerando sua própria condição e posição, assim como o estado das coisas para as quais ele deu sua vida, e muito mais – esse homem agora senta e escreve uma carta como essa, um documento como esse! – um derramar como uma torrente poderosa, um dilúvio de maravilhas e deslumbramentos pela grandeza de seu Cristo e do chamamento desse corpo eleito. Imagino que tipo de carta sairia de nós em condições similares!
Bem, qual é o segredo? Qual é a resposta? A repreensão para os nossos corações, para o seu e meu – uma real e sonora repreensão. Paulo tinha tal compreensão de que seu Senhor era mais e maior do que todos esses problemas, essas aflições, esses desapontamentos, essas adversidades, essas tristezas, esses sofrimentos do corpo e da alma. Somente a sua compreensão de Cristo explica uma carta como essa. Não estamos certos em dizer que isso é o que queremos, o que precisamos? Isto é algo poderoso e emancipador, não é? De fato é mesmo! A primeira revelação de Jesus a Saulo na estrada para Damasco fez algo que todas as torturas, leis, prisões e oposições que sobrevieram sobre ele jamais poderiam fazer, que é, emancipa-lo do Judaísmo, do Israelísmo, fazendo dele o maior apóstolo da igreja e das nações.
Esse foi o primeiro efeito de sua compreensão a respeito de Cristo, e isso não é algo pequeno, é tremendo! Essa revelação alargada, ampliada desse mesmo Cristo foi responsável pela suprema e final emancipação de tudo mais que poderia o oprimir, subjugar e o colocar em estado de absoluto desânimo.
Isso é apenas uma introdução, mas também é a única forma de entendermos alguma coisa. Não chegaremos a lugar algum se não voltarmos a olhar para o Senhor novamente e contempla-lo. Acredito que tudo o que dissemos não chegou até você como palavras, linguagem, ideias, como simples ensinamento de doutrina, mas que você, junto comigo, possa ter um relance, um relance revigorador da grandeza Desse que enche todas as coisas.
Que essa obra emancipadora possa ser feita em nós pela visão renovada desse “Ele” de eternidade a eternidade, “para [Ele] encher todas as coisas”.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.