por
T. Austin-Sparks
Editado e suprido por Golden Candlestick Trust. Origem: "The Altar of Incense". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)
Leitura: Êxodo 30: 1-10.
Lendo através do livro de Êxodo você ficará impressionado com a estranha quebra de continuidade, que, passando do santo dos santos para o lugar santo, onde três utensílios são encontrados, o pão da proposição, o candelabro de ouro, e o altar de incenso, a descrição se interrompe com o candelabro. Depois há um lapso nestes capítulos do 25 até o 30, antes de o terceiro vaso nessa parte ser mencionado. Assim que temos este espaço considerável no meio, ocupado por um grande número de coisas antes de que esse vaso no santo lugar é tomado. Penso que a ordem das coisas nos dão a pista para isto, pois não é um acidente, não é que simplesmente o escritor omitiu ou esqueceu e então voltou de novo lembrando, mas existe um governo, e a mesma ordem das coisas aqui está cheia de significado valioso.
Observemos, então, a ordem das coisas como foram estabelecidas pelo Senhor. O Senhor começou no santo dos santos com a arca, e depois o propiciatório. Então Ele passou para o lugar santo, a mesa do pão da proposição; e depois ele tomou o assunto das cortinas do tabernáculo, e as cortinas de pelo de cabra; a seguir as armações, as bases, as travessas; depois o véu; a seguir a porta do tabernáculo. Daí Ele passou para o grande altar, o altar de oferta queimada. Depois Ele lidou com o átrio, suas colunas, com seus ganchos e ligaduras; depois com a entrada do átrio. Depois disso Ele falou do azeite de olivas para o candelabro; e a seguir do sacerdócio; primeiramente, Arão, e depois os filhos de Arão, as vestimentas do sumo sacerdote, as vestimentas dos sacerdotes, o peitoral de Arão, o manto do colete para ser usado no santo dos santos; e depois da consagração dos sacerdotes; a seguir, da oferta diária; depois, do altar de incenso.
É marcante começar bem no centro das coisas, o santo dos santos, e trabalhar até a mesma circunferência, tomando tudo quanto aos componentes, quanto ao ministério, quanto às ofertas; omitindo só uma coisa, o deixando para o final: o altar de incenso. Ninguém que ler cuidadosamente este relato pode deixar de ficar impressionado com isso, e ninguém jamais pensaria que é por causa de que o altar de incenso é de tamanha insignificância que pode ser deixado para o fim. O contrário é a verdade.
Tudo isto do que temos falado estando entre o capítulo 25 e capítulo 30 é, por um lado, uma revelação de Cristo em relação à comunhão do homem com Deus. Tudo tem a ver com como Deus traz o homem em comunhão com Ele mesmo em Cristo, como o desejo do homem, e a necessidade do homem, e o próprio objetivo do ser do homem é para ser realizado, que é, comunhão com Deus. Tudo isso é estabelecido nesta ordem muito compreensiva em tipo. Por outro lado, é tudo uma revelação da vocação da igreja, a vocação do povo de Deus como um povo sacerdotal. É uma vocação maravilhosa. A vocação sacerdotal do povo do Senhor é para mim uma das coisas mais maravilhosas que Deus já revelou. É incrível que Deus tenha trazido ao homem para a comunhão com Ele mesmo num ministério sacerdotal neste universo, para personificar e expressar numa vida espiritual, a maravilha da redenção, de um universo remido pelo sangue de Jesus Cristo. A vocação da igreja é para personificar e expressar não somente em doutrina ou em palavra, mas em poder espiritual e influência, o grande fato de que este universo é centralmente remissível, que a redenção está no coração deste universo. Essa é a essência da frase familiar, “Tu os constituíste reino e sacerdotes (isto é, uma nação santa) para o nosso Deus”. Tudo isto é, então, uma revelação da vocação da igreja nessa capacidade.
Existe uma pequena frase na Escritura que reúne tudo que este tabernáculo e seu sistema representa. É a pequena frase no Salmo: “O Senhor concede graça e glória” (Sal. 84:11). A madeira de acácia sempre fala da graça, que é o homem em comunhão com Deus. O ouro espalhado, cobrindo, revestindo, é a glória divina. As duas coisas são unidas, graça e glória. Você percebe que todo o sistema é completamente permeado com essa dupla benção de Deus. Você o pode tomar como uma chave. A graça de Deus resultando na glória de Deus! A glória de Deus recaindo sobre nós por causa da graça de Deus!
Agora chegamos a este altar de incenso, e como aparece onde o faz nesta maneira impressionante, após a coisa toda ter sido compreendida e estabelecida, mostra uma coisa muito claramente e enfaticamente. É quase como se o Espírito Santo tivesse só suspendido isso e dito, “Agora então, vamos só segurar por um minuto. Me deixe passar por tudo, tocar tudo, e dar a você uma revelação completa. Isso é tremendamente importante, e isto virá quando tenha estabelecido tudo o mais”. Assim aparece, e declara a sua própria mensagem enfática, que tudo é prosseguido e feito eficaz pela oração. Isto é, na oração que é em virtude do precioso Sangue, pois o sangue da expiação é aspergido sobre os chifres do altar e do altar em si. Há uma prescrição muito clara disso aqui neste relato, e é a oração em virtude do sangue de Jesus que toca tudo, afeta tudo, faz tudo ser de valor vivo, e causa tudo ser eficaz. A frase de Paulo é “tudo pela oração”.
Observe como tudo nestes capítulos é feito para levar até este altar. É tomado posse de tudo e finalmente conduz a este altar, e depois você vê a associação imediata deste altar de incenso. Olhe novamente para este relato, e você descobrirá que está defronte do véu que está diante da arca do testemunho; está perante o propiciatório que está sobre o testemunho; está ao lado da mesa do pão da proposição, junto ao candelabro.
A oração em virtude do sangue do Senhor Jesus toca as coisas mais profundas, toca tudo e está associado com tudo. É como se o Senhor estivesse dizendo: “Sim, há uma expiação; expiação no santo dos santos tem sido realizada. Sim, há um propiciatório para ter comunhão. Sim, há todas as provisões. Mas para um valor diário disso, uma vida de oração é essencial”. Tudo isto é ministério pela oração, se entra pela oração. Não há nada – por mais grande e compreensiva que seja a provisão divina – que possa ser conhecido independentemente da oração. Encontre uma vida sem oração, e todo o grande, maravilhoso significado da provisão de Deus em Cristo será de pequeno valor real. Não há entrada gloriosa na grande provisão de Deus onde a vida de oração é escassa. Quer seja comunhão com Deus, essa comunhão é em oração; quer seja em testemunho para o mundo, esse testemunho é efetivo através da oração; quer seja alimentando-se de Cristo, o Pão Vivo, isso é pela oração. Você diz, A Palavra! Sim, mas que é a Palavra sem oração? Se você divorciar a sua Bíblia de sua oração, você tem simplesmente um Livro de leis e instruções, um manual, e você se torna meramente teológico ou doutrinário. Mas oração em associação com a Palavra faz a Palavra viver e a torna de valor espiritual.
Observe o que o Senhor disse: “Quando Arão vier cuidar das lampadas na manhã, ele oferecerá incenso” (versículo 7). O que ele faz ao cuidar das lampadas? Ele tomava os apagadores. Alguns pavios ficavam um pouco secos e usados, e ficavam fumegando e se consumindo, e enchendo a atmosfera com algo que não é agradável, e isso é a carne. Este velho homem sim se levanta, e esta vida da carne se manifesta a si mesma de vez em quando. Ainda que tenhamos o Espírito, a carne fica instável às vezes, e sempre existe a possibilidade muito próxima à mão da carne, e do eu, e da velha natureza, de encher o ar com algo detestável, desagradável, esfumaçado, fumegante. Isso tem que ser cortado cada manhã pela oração: “Senhor, corta o pavio ardente dos meus lábios carnais, do meu agir carnal; corta minha natureza, Senhor, nesta manhã. Corta aquilo que sou eu, o qual se não é cortado hoje dará muito espaço para o que é deplorável, e encherá o dia com carne nebulosa, esfumaçada, ardente”. Arão aparava as lâmpadas com oração toda manhã, e cada manhã quando ele acendia as lâmpadas, ele oferecia incenso (versículo 7-8). Há sempre escuridão em volta, pronta para invadir e vencer o coração que é o santuário de Deus, e tem que ser resistido para que a luz que está em nós não se torne escuridão.
Por isso, as lâmpadas têm que estar acesas contra a escuridão, a luz tem que ser mantida como um testemunho contra a escuridão. Como? Pela oração. A luz de um testemunho; para usar as palavras de Paulo acerca deste mundo: “no meio do qual brilhamos como luminares no mundo”. Nosso testemunho, o testemunho de Jesus em nós, pode ser dominado pela escuridão à nossa volta, mas tem que ser mantido por suprimentos novos de azeite do Espírito continuamente. Como são os suprimentos novos do Espírito recebidos? Como é a luz do testemunho mantida contra a escuridão? Pela oração.
Agora observe, o testemunho está em vista aqui: “Quando ele cuidar das lâmpadas... quando ele acender as lâmpadas”. A lâmpada é a lâmpada do testemunho de Jesus no crente, na igreja, de maneira que o testemunho de Jesus está sempre em vista. A oração está relacionada ao testemunho de Jesus. Essa é a base da oração, o mantenimento de um claro testemunho, um claro testemunho Dele nas nossa vidas. Como temos dito, se a vida de oração é fraca, então a revelação do Senhor Jesus em nós será fraca, e em vez de ser uma revelação Dele será uma manifestação de nós mesmos, e essa é a cosia que o Senhor diz que tem de ser cortada.
Depois lemos: “... os chifres do altar, formando um único móvel” (versículo 2). a mais perfeita tradução da frase seria, “os chifres serão o mesmo altar”. “Uma peça”. É claro, isso é o que significa; não algo feito separadamente e ligado, mas forjado de uma peça. Mas a tradução literal é, muito enfática: “os chifres serão de si mesmo”. O ponto é este. Você tem a oração em vista, e este altar, e os chifres nas Escrituras são sempre tipos de poder, força, e o poder é de si mesmo, a força é da oração; oração é força. Poder não é algo separado da oração, não é algo feito em si mesmo e dado para nós. Poder é uma parte da oração, e a oração é poder. É uma coisa. Temos que aprender mais e mais do poder da oração, e da oração de poder.
Finalmente, o sangue da oferta pelo pecado será aspergida nos chifres do altar (versículo 10). O sangue é sempre na Escritura um testemunho contra o que é da velha criação, para cortá-la, e introduzir a nova criação; um testemunho contra o terreno, o mundano e o carnal, e portanto o satânico; um testemunho para o céu, o espiritual, e aquilo que é o do Senhor. Significa aqui que o sangue da oferta pelo pecado sendo aspergido sobre os chifres e sobre o altar, faz tudo celestial. Nossa vida de oração tem que estar sobre uma base celestial. Não é suficiente só ficar orando pelos nossos assuntos terrenos. É tão fácil se levantar pela manhã e se apressar por meio de umas poucas palavras pedindo ao Senhor abençoar a nós e aos nossos, e as coisas terrenas para o dia, como se estas coisas desta vida fossem tudo. Oh, não! O Senhor teria a oração tocando as coisas celestiais, coisas espirituais, relacionadas a aquilo que não é do tempo mas da eternidade, não deste mundo, mas em relação a Suas intenções eternas, celestiais. Ele nos separaria do meramente temporal. Existe um lugar para trazer essas coisas diante do Senhor, mas elas têm que ser elevadas em relação ao celestial e não serem tratadas como coisas em si mesmas. O sangue faz tudo celestial, separando da velha criação. Existe uma boa dose da velha criação em nossas orações; é nossa conveniência, nossa libertação de inconveniência e desconforto, nossa salvação do que nos levaria a uma boa dose de problemas e sofrimento. Esse é o motivo por trás de uma boa dose de nossas orações. “Senhor, não deixe nada mau acontecer hoje, porque estragaria nossa vida hoje!”
Mas supondo que o Senhor nos levante para algo completamente novo através da aflição, vamos nessa ocasião fazer essa oração? Não, nossa oração deve ser: “Hoje, Senhor, quero aquilo que for de maior conta em relação aos valores espirituais, e se isso deve acontecer por meio de provas e adversidades, não oro para ser livrado delas”. Digo, “Senhor, há poder para me levar através das provas de cada dia em relação ao significado da prova”. Isso é oração celestial. Isso é orar com seu coração no céu. “Portanto, visto que fostes ressuscitados com Cristo, buscai o conhecimento do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Pensai nos objetivos do alto, e não nas coisas terrenas; pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. (Col. 3:1-3). “Nossa cidadania está no céu”. Ora, a vida do crente é para ser, portanto, uma com interesses celestiais sempre em vista, e nossa vida de oração está em relação a esses interesses.
Onde a oração mais vitalmente e eficazmente conta é nos celestiais. Efésios deixa isso perfeitamente claro: “Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades... as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais”. Então, proporcionando para essa batalha, ele reúne tudo, “Orai no Espírito em todas as circunstâncias, com toda petição e humilde insistência”. A batalha é nos celestiais, e a oração é mais eficaz lá. É lá onde o poder é de fato contra as forças espirituais, e esse sangue nos leva até lá como proteção para uma esfera que é espiritual e por isso é de maior conta. O lugar do altar de incenso, deixando-o para o final, até que tudo o mais tenha sido introduzido, dá à oração um significado tremendo.
Agora, uma reflexão final. Era para haver uma moldura de ouro ao redor da parte superior deste altar de incenso (versículo 3), e essa moldura (coroa) fala da glorificação do Senhor Jesus como o Vitorioso. “Coroado de honra e de glória por ter sofrido a morte” (Heb. 2:9). A coroa do Vitorioso sobre o pecado e morte, e o motivo dessa vitória nesta conexão está em Isaías 53: “E pelos transgressores intercedeu”. A implicação é que pela Sua intercessão pelos transgressores na Sua cruz, Ele venceu. Haviam transgressores condenados sob juízo. E Sua cruz foi uma grande obra de intercessão pelos transgressores – e nós estávamos entre eles. Pela intercessão na Sua cruz, Seu grande ministério de intercessão ao se entregar a Si mesmo, Ele nos salvou. Você e eu estamos hoje em Cristo, homens e mulheres salvos, por causa da intercessão do Senhor Jesus. Ele triunfou em intercessão por nós, e como Sumo Sacerdote Ele vive sempre para interceder, e cada dia nós estamos vivendo no benefício de Sua intercessão continua. Esse é o ponto na moldura de ouro, a coroa de glória. Agora o Senhor está nos chamando para esse ministério. Não é apenas para participar das dores de parto, mas para participar da glória, não apenas para participar da humilhação, mas para participar da coroa, e a coroa não é uma coisa objetiva nos dada, mas é para o Senhor vir e coroar nossas vidas. Isso é para ser Seu selo sobre nós, e Ele irá dizer, “Bem feito! Como tenho vencido, assim você venceu; participe comigo do meu trono”. Se isso pode ser por causa de que a minha vida foi uma vida de oração prevalecente, essa é a glória disso; e mesmo agora, saber o que é prevalecer na oração é glória; é a coroa de glória.
Agora observe que há uma glória conetada com a oração. O Senhor nos chama, então, para considerar nossa vida de oração, porque tudo depende disso. Deve ser o tempo para aparar o pavio, as obras da carne. Deve ser o meio para manter a luz clara e forte contra a escuridão, e deve ser o meio do poder, o terreno do poder, e de prevalecer. Que o Senhor use Sua palavra, para então nos trazer de volta, se for preciso, para a força de uma vida de oração plena.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.